De volta à Liga dos Campeões da moda, o Portugal Fashion cumpriu ontem a primeira etapa internacional com mestria. Na Semana de Moda Masculina de Milão, David Catalán e Miguel Vieira conquistaram elogios do público que viu, em primeira mão, as suas sugestões, na Fondazione Sozzani.
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Catalán foi o primeiro a subir à cena com “Problems”, uma coleção inspirada no interior de Portugal que dá continuidade à linha de inverno para a primavera/verão 2026, trazendo referências aos caretos e à cultura popular. Na passarela, destacaram-se guizos — costurados em meias, calças, blusões e até em acessórios — criando um efeito sonoro que dialogava com a música techno de fundo, presente, mas sem roubar protagonismo ao tilintar.
“Também temos trabalhado muito com os padrões da manta alentejana e tecidos que, mais ou menos, representam essa manta”, explicou, ao JN, o designer espanhol radicado no Porto. Detalhes como borlas também se fizeram notar em peças que transitam entre o rústico e o urbano com naturalidade.
Os emblemáticos visuais monocromáticos de David Catalán misturaram-se com peças casuais: agasalhos com logótipo bordado no peito, blusões, calças e calções de ganga confortáveis, e fatos de vinil. A paleta de cores varia do bege neutro e preto a verdes néon e amarelos vibrantes, pensada para o homem contemporâneo que valoriza a tradição com um toque de modernidade.
Do feedback que recebeu, saiu confiante nas propostas que, “a partir de fevereiro, estarão à venda”.
Elegância contemporânea
Miguel Vieira apresentou “Uma noite no jardim”, com o preto assumindo papel central. “É uma coleção onde fui buscar várias flores, de preferência muito escuras, em tons quase negros, para colocar nas peças”, partilhou o criador de São João da Madeira.
Sobre a escolha cromática, foi claro: “Quando se fala de Miguel Vieira, todos sabemos que se fala de preto. Há cerca de 10 anos, decidi pôr cor, muita cor. Mas, após a pandemia, achei simpático voltar ao preto.” Com muitas criações feitas à mão e produzidas em quantidades limitadas, a coleção destaca-se pelo trabalho artesanal minucioso. “São peças bordadas à mão com flores, em tecidos de altíssima qualidade, como Loro Piana”, acrescentou Miguel. As restantes peças são produzidas em maior escala, mas sem perder o rigor técnico e estético.
“ Uma noite no jardim” propõe uma elegância noturna e contemporânea, onde a ausência de cor é, na verdade, um manifesto visual e emocional. Na capital da moda italiana, a passagem terminou com “The Whole Of The Moon”, dos Waterboys, dando ritmo aos aplausos. Miguel Vieira declarou-se “muito feliz” por estar de regresso ao certame, após um hiato de dois anos.
Para a diretora do Portugal Fashion, Mónica Neto, voltar a Milão representa “uma parte importantíssima da estratégia de internacionalização”. “Tudo o que desenhamos em termos de plano de ação é, de facto, em sinergia para a exposição global e para proporcionar uma oportunidade de comunicação internacional”, acrescentou.
Segue-se Paris, onde a dupla Ernest W. Baker apresenta hoje a nova coleção, num evento também inserido no calendário oficial, reforçando o renascer do projeto da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) no roteiro global.