Na Semana da Moda de Paris, Miguel Castro Freitas apresentou a sua primeira coleção para a Mugler. Silhuetas ousadas, tecidos de alta performance e inclusão na passarela marcam a nova era da maison. Um espetáculo entre herança e reinvenção.
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A apresentação de Miguel Castro Freitas como diretor criativo da Mugler aconteceu quinta-feira, 2 de outubro, na Semana da Moda de Paris. O criador português, de 45 anos, subiu a fasquia das expectativas ao recuperar os códigos que transformaram a "maison" num ícone, acrescentando-lhes uma linguagem contemporânea que alia sensualidade, diversidade e inovação técnica.
Fotos: Mugler
O desfile arrancou com um casaco bege combinado com uma saia midi, visual que definiu o tom de toda a coleção primavera-verão 2026: linhas monocromáticas em bege, laranja-claro e preto, cinturas vincadas, ombros marcados, texturas inesperadas com pelo, plumas e franjas. Entre as primeiras peças estavam ainda bodies brilhantes, corsets, vestidos drapeados e crinolinas desconstruídas, numa fusão de alfaiataria rigorosa e teatralidade futurista.
Fotos: Mugler
"É abraçar a ideia de um cliché, pois a Mugler está muito conectada a isso", explicou Miguel Castro Freitas, que apresentou a primeira parte de uma trilogia a que chamou Stardust Aphrodite. "Essas obsessões universais repetem-se ao longo dos anos: o power dressing, o glamour, a femme fatale e o retrofuturismo."
Entre tradição e futuro
O ADN criado por Thierry Mugler - ombros pontiagudos, cinturas esculpidas e silhuetas de inspiração arquitetónica - continua presente, mas agora aliado a tecidos tecnológicos que respiram e acompanham o movimento do corpo. O erotismo não surge pela exposição óbvia da pele, mas pela sugestão: franjas finíssimas que insinuam formas, macacões de vinil, vestidos suspensos por piercings ou cortes estratégicos que jogam entre ocultar e revelar.
Fotos: Mugler
Ao mesmo tempo, o criador português reforçou uma mensagem inclusiva ao levar para a passarela corpos variados e representações de género fluido. A Mugler, até aqui fortemente associada a momentos de espetáculo - de Beyoncé a Zendaya -, assume-se também como plataforma cultural, onde moda e discurso social coexistem.
O percurso de Miguel Castro Freitas explica a sua maturidade estética. Formado na Central Saint Martins, em Londres, trabalhou com nomes como John Galliano, na Dior, Stefano Pilati, na Yves Saint Laurent, Alber Elbaz, na Lanvin, e Raf Simons, no regresso à Dior. Mais recentemente, chefiou o prêt-à-porter feminino da Dries Van Noten e assumiu a direção criativa da Sportmax. Agora, entra no restrito grupo de portugueses que lideraram casas de referência em Paris, juntando-se a Felipe Oliveira Baptista.
No final, a receção foi clara: a Mugler mantém a sua aura de espetáculo, mas adaptada às exigências do presente. Entre a herança teatral e a reinvenção pragmática, Miguel Castro Freitas apresentou uma coleção sólida, que deixou a plateia, onde se contavam figuras como Pamela Anderson e Naomi Watts, a falar do futuro.
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