A atriz e modelo portuguesa, em destaque no novo filme "Superman", revelou viver com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção. O testemunho, partilhado num podcast norte-americano, contribui para quebrar o silêncio em torno de uma condição ainda subdiagnosticada em adultos.
Corpo do artigo
Aos 34 anos, Sara Sampaio decidiu abrir um capítulo mais íntimo da sua vida. Em conversa com o jornalista Josh Smith, num podcast norte-americano, a atriz e modelo portuguesa revelou ter sido diagnosticada com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA), um diagnóstico tardio que ajudou a reorganizar a vida.
"Fui diagnosticada com PHDA e isso foi mesmo do tipo: "Meu Deus, finalmente a minha vida faz sentido. Não há nada de errado comigo. É simplesmente a forma como o meu cérebro funciona"", partilhou, num registo emocional e sem filtros.
Sara explicou que vive com o subtipo desatento, marcado por dificuldades em manter o foco até ao limite da urgência : "Tenho imensa dificuldade em concentrar-me e só consigo fazê-lo quando a urgência aparece. Tenho tendência para deixar tudo para a última hora e acabava por realizar um mês de trabalho num único dia."
O esgotamento foi-se acumulando até se tornar insustentável. "Chegou a um ponto em que já não conseguia gerir mais nada. Sentia-me constantemente num estado de bloqueio. Há imensas coisas sobre mim que só percebi graças à terapia. Começas a criar ferramentas para viver num mundo que não foi feito para o teu tipo de cérebro", recordou.
A modelo pode ser vista atualmente nos cinemas, ao lado de David Corenswet e Rachel Brosnahan, no novo filme "Superman". A longa-metragem marca uma nova etapa na carreira internacional da modelo portuguesa, agora cada vez mais presente no universo da representação.
Marisa Liz também falou do diagnóstico
Recentemente, também Marisa Liz partilhou a sua experiência com a PHDA, diagnosticada igualmente na idade adulta. A vocalista dos Amor Electro tem vindo a dar voz ao tema e, há poucas semanas, voltou a abordá-lo no programa "Dona da Casa", da Antena 3, numa conversa com Catarina Marques Rodrigues.
"No início da primária e da secundária, foram momentos horríveis para mim. Além de lidar com a morte do meu pai, que morreu quando eu tinha oito anos, não conseguia perceber expressões, não conseguia estar focada nas aulas", lembrou.
As dificuldades eram muitas vezes mal interpretadas: "Tu ouves em criança que "não aprendes porque não queres", e eu dizia "mas eu quero, simplesmente não consigo". Depois pensas: "Então, se não consegues, é porque és burra". Ninguém mo dizia diretamente, mas havia quem me visse completamente desligada."
A descoberta de um talento excecional para a música ajudou a contrariar essa ideia. "Percebi que havia áreas onde não só não era burra, como era acima da média. Isso deu-me pistas", sublinhou.
Quando recebeu o diagnóstico, há oito anos, sentiu-se surpreendida, mas os que a rodeavam não estranharam. Desde então, optou por valorizar o lado positivo da condição. "Tenho muita facilidade em arranjar soluções para os problemas. Como recebo muitas informações ao mesmo tempo, consigo reagir rapidamente. Se um plano falha, sou rápida a adaptar-me. Para mim, isso são superpoderes", garantiu.
Uma realidade ainda pouco esclarecida
A PHDA é uma perturbação do neurodesenvolvimento que afeta entre 3% e 5% da população adulta, segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde. Em Portugal, não existem ainda dados nacionais detalhados, e a maioria dos diagnósticos continua a ser feita durante a infância, o que contribui para a subvalorização da realidade dos adultos.
Casos como os de Sara Sampaio e Marisa Liz ajudam a dar visibilidade a uma condição frequentemente invisível, marcada por sentimentos de inadequação, tentativas sucessivas de adaptação e a sensação de que algo nunca encaixa. Para muitos, o diagnóstico só chega após anos de frustração e autocrítica.
Ao falarem publicamente, figuras conhecidas não só quebram estigmas, como contribuem para uma maior literacia em saúde mental. Os seus testemunhos podem ser o ponto de partida para que mais pessoas se reconheçam, procurem ajuda e compreendam que há outras formas de estar e pensar igualmente válidas.