
Atriz Sofia Ribeiro apelou à prevenção e à normalização do diálogo sobre o cancro, numa sessão marcada pela emoção
Foto: Divulgação
Atriz participou no 6.º Congresso Nacional de Prevenção Oncológica e Direitos dos Doentes, que decorreu na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto, onde revisitou os dez anos desde o seu diagnóstico e reforçou a importância da prevenção. O testemunho de Sofia Ribeiro emocionou profissionais, doentes e sobreviventes.
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A emoção tomou conta da Fundação Cupertino de Miranda, no Porto, durante o 6.º Congresso Nacional de Prevenção Oncológica e Direitos dos Doentes, que decorreu a 14 e 15 de novembro, numa iniciativa promovida pelo Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Sentada na mesa dedicada a "O Impacto do Cancro: Uma Abordagem Centrada no Doente", a atriz Sofia Ribeiro falou num registo íntimo e próximo sobre a jornada que iniciou a 13 de novembro de 2015, quando recebeu o diagnóstico de cancro da mama.
Logo no arranque, fez questão de sublinhar o motivo que a leva sempre a aceitar iniciativas da Liga. "Será sempre aceite por mim este tipo de convites, pela importância que considero que têm", afirmou, depois de felicitar pelo trabalho desenvolvido ao longo dos anos. Acrescentou ainda que momentos de reflexão como este "merecem toda a nossa atenção e consideração".
Ao recordar o diagnóstico, a atriz admitiu que aquele foi um dos dias mais difíceis da sua vida. Para ela, "foi a notícia mais dura de receber", sobretudo porque tinha acabado de fazer 31 anos, e, naquele instante, quase deixou de ouvir o médico, como se estivesse "num filme em "slow motion"". Explicou que é uma sensação que suspende a vida entre exames, decisões e tratamentos, e que "ninguém nos ensina a lidar com diagnósticos destes, nem a ser pacientes, nem a ser sobreviventes".
"Tive medos duros, mas, felizmente, muita esperança"
Mais adiante, Sofia Ribeiro descreveu o período de tratamento como uma autêntica montanha-russa emocional. Contou que viveu momentos de grande vulnerabilidade: "Tive medos muito duros, muita tristeza profunda". Ao mesmo tempo, destacou que a esperança foi sempre mais forte e que se agarrou à fé, à ciência e às pessoas que a rodeavam. A família, os amigos, a equipa médica, os auxiliares e os enfermeiros foram, nas suas palavras, um apoio determinante.
A atriz explicou ainda porque decidiu tornar pública a doença numa fase tão inicial. Uma notícia que estava prestes a sair levou-a a antecipar-se. "Resolvi ser eu a falar sobre a minha saúde", disse. O que poderia ter sido um momento de fragilidade transformou-se numa onda inesperada de apoio, que descreveu com carinho: "A onda de amor que me chegou foi tão grande que percebi que estava a fazer a coisa certa."
Dessa partilha nasceu também o livro "Confia", um reflexo da missão que assumiu desde então: quebrar tabus e falar abertamente sobre o cancro. Durante a intervenção, reforçou várias vezes que a prevenção e a vigilância são essenciais e acrescentou uma convicção pessoal que tem transmitido ao público. "Acredito que estamos mais doentes porque estamos mais tristes. As emoções têm o poder de nos adoecer", disse, referindo-se à importância do bem-estar emocional na saúde.
Sofia Ribeiro dedicou ainda parte da sua intervenção ao voluntariado, área onde mantém colaboração com a Liga sempre que possível. Disse que o trabalho desenvolvido pela instituição "é quase familiar" e que muitas pessoas encontram ali o apoio que não têm em casa.
Sobre a palavra "sobrevivente", que tantas vezes lhe atribuem, fez questão de clarificar o significado que tem para si. "Considero-me uma sobrevivente porque só eu sei o que passei", afirmou. Mas apressou-se a reforçar que isso "não faz dos outros menos guerreiros", lembrando que há fatores, como a sorte, que não dependem da vontade de cada pessoa.
Por fim, deixou uma mensagem de força aos doentes e sobreviventes presentes no congresso. "A única parte que nos cabe é não nos entregarmos", sublinhou, explicando que aceitar a condição retira-lhe peso e que "a zanga e a injustiça corroem-nos".
O testemunho terminou com um aplauso prolongado, numa sala unida num silêncio atento. No Porto, Sofia não avivou apenas memórias de um percurso difícil; trouxe, sobretudo, uma mensagem de proximidade, coragem e humanidade que ficou a ecoar muito depois de deixar o palco.

