Artista de 24 anos é a primeira pessoa não binária a ganhar o festival europeu. Agora quer relançar o debate social e político.
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Foi apenas em novembro de 2023 que Nemo Mettler se assumiu como não binário, por não se identificar com nenhum género sexual específico. Meio ano depois, o rapper suíço de 24 anos fez história ao vencer o Festival Eurovisão da Canção, no sábado, em Malmö, na Suécia, determinado em contribuir para a mudança no seu país.
Com a música “The code” fundiu pop, rap, drum’n’bass e ópera e partilhou a sua jornada pessoal para quebrar “o código” entre os géneros, acabando por conquistar a vitória e o respetivo Microfone de Cristal. Tornou-se, assim, a primeira pessoa que se identifica como não binária a triunfar no certame, o que lhe deu força para convencer os governantes suíços a reconhecer o terceiro género em documentos oficiais.
“Na Suíça não há entrada para o terceiro género. E acho isso absolutamente inaceitável”, frisou Nemo, ainda em solo sueco, logo após sagrar-se vencedor da Eurovisão, certo de que é preciso “alterar aquilo”.
Nessa altura, manifestou o desejo de ligar ao ministro da Justiça da Suíça, Beat Jans, pois é necessário “ter representação também na política”, em prol dos direitos das pessoas que se identificam como não binárias.
Encontro com ministro
“É muito importante que as pessoas se sintam vistas”, disse Nemo. A sua vontade foi ouvida: na quarta-feira, um porta-voz disse que o ministro respondeu a Nemo, manifestando disponibilidade para uma reunião. “No domingo, Jans tentou entrar em contacto com Nemo por telefone e também mandou uma mensagem ao cantor para o congratular e confirmar a sua intenção de um encontro. Ambos os lados procuram atualmente uma data adequada”, adiantou Kathrin Alder.
O caso jacques costa
O debate volta agora à agenda pela voz do cantor, cerca de 18 meses após o Governo suíço ter rejeitado propostas para introduzir uma opção de terceiro género, ou sem género, nos registos. A justificação? O modelo binário de género (feminino/masculino) está “fortemente ancorado” na sociedade helvética.
Enquanto presidente cantonal de Basileia, Beat Jans - em funções desde dezembro - conseguiu adotar a lei cantonal sobre a igualdade, que cria “um modelo de género contemporâneo”.
Países vizinhos da Suíça, Áustria e Alemanha (onde Nemo vive atualmente) reconhecem o terceiro género, e não são os únicos.
Em Portugal, em janeiro, o Parlamento aprovou um diploma que permite a escolha de nomes neutros, deixando de ser obrigatório que o nome próprio esteja associado ao sexo feminino ou ao masculino, embora o cartão de cidadão ainda não permita a omissão do género.
Recentemente, Jacques Costa destacou-se como a primeira concorrente não binária do “Big Brother”, despertando discussão sobre o tema. Apesar da barba, disse gostar de ser tratada pelo pronome feminino, o que gerou alguma confusão de conceitos nos comentadores e público.