Foi em 2008 que se aventurou num projecto a solo, somando rápidos sucessos. "Lights & Darks" é o segundo disco de Rita. O apelido artístico Redshoes surgiu inspirado pelo imaginários do filme "O Feiticeiro de Oz" e o tema "Let's Dance", de David Bowie.
Antes, ela era Rita Pereira, uma jovem que arrancou na música em 1996, ainda na escola. Seguiu-se os "Atomic Bees", como vocalista e teclista, e "Rebel Red Dog" onde assumiu o baixo.
Em 2003, passou para as teclas da banda de suporte de David Fonseca - interpretou o tema "Hold Still", do álbum "Our Hearts Will Beat As One" - , enquanto ganhava asas para voar... sozinha.
Depois do sucesso de "Golden Era", a cantora e compositora já está na estrada com mais músicas da sua recente aposta. Anteontem esteve no Hard Club, no Porto, para um concerto que serviu de pretexto a uma conversa ritmada com o JN.
Como é apresentar "Lights & Darks" em palco?
Para mim, o processo de passar do estúdio para o ao vivo é sempre um processo misterioso, porque parece que as canções ganham uma nova vida e uma nova interpretação. Com este disco, foi particularmente interessante porque as músicas são mais abertas e portanto mais permeáveis a modificações. Até agora os concertos têm corrido muito bem, sobretudo o de apresentação, em Lisboa, na Aula Magna, onde consegui transportar para o palco, em termos cénicos, o conceito do disco.
Fale-nos deste disco?
É um disco muito mais maduro do que o primeiro. Mais verdadeiro e fiel ao que sou agora, no presente. É mais denso mas, ao mesmo tempo, mais aberto . Toca em pontos novos para mim. Algumas das canções foram e são um desafio em termos de escrita e interpretação. Sinto que dei um passo numa nova direcção em termos de sonoridade e conceito, o que me agrada particularmente porque não gosto de me repetir nem de rotinas. Sinto-me orgulhosa por ter trabalhado meses a fio e ter encontrado estas canções em mim. É um disco de muitos encontros.
No que se inspirou para a sua composição?
Neste disco estão presentes muitos dos livros que li nos últimos meses de digressão do "Golden Era" e durante o período de composição de autores como Anais Nin, D. H. Lawrence, Jack Kerouac... Pintura do Renascimento, de onde vem o tom religioso presente no disco, alguns filmes que vi, viagens que fiz e na vida em geral. Tudo me inspira, o senhor da mercearia, o cão que se passeia na rua, o sino ao longe. Sou uma espécie de esponja.
Este disco tem mais potencialidades para mexer em palco do que tinha as canções do "Golden Era"?
Sim, sem dúvida. Estas canções são mais moldáveis, diria até que lhes apetece mesmo mexer. Para mim isto é muito bom sinal, é sinal que elas sobrevivem a tudo ou quase tudo o que se lhes possa fazer. No anterior, as estruturas e arranjos eram mais fechados, mais pomposos também, daí nem sempre ser fácil de as ouvir despidas.
Ao ouvir este novo disco, podemos identificar estilos variados...
Na minha cabeça só há um estilo: o meu que talvez seja um estilo muito aberto. É o espelho do que sou enquanto ouvinte de música e também da minha personalidade. Vou de um extremo a outro, no bom e no mau sentido.
É hoje uma artista mais madura?
Acho que sim e mais velha também. Fazer discos também faz nascer cabelos brancos. Mas sim, sinto-me mais confiante e mais autêntica, creio que a isso se chama maturidade.
Foi fácil vingar a solo?
Foi um processo que demorou mais na tomada de decisão do que propriamente na concretização do meu percurso a solo. Demorei oito anos a decidir gravar um disco, e em dois as coisas cresceram de forma harmoniosa. Portanto, diria que fácil nunca é, mas não foi o cabo das tormentas.
Os sapatos deram o apelido artístico e também a lançaram numa colecção de calçado. Estava à espera dessa repercussão?
Não. Nunca me ocorreu tal coisa até ter aparecido o convite que aceitei com muito agrado, porque é sempre bom poder expandir a criatividade noutras áreas. Foi uma experiência muito curiosa. Fui às fábricas, aprendi como se constroem sapatos, detalhes sobre peles e saltos, costuras e acabamentos. Foi como voltar à infância e brincar um pouco às costureiras.
Então, nunca se vai separar dos sapatos vermelhos?
Hei-de ter sempre um par de sapatos vermelhos.
Com este disco a ser promovido, já pensa no próximo?
Não, ainda estou a ver este crescer.
