<p>O eléctrico 100 saiu à rua e percorreu a marginal, tal como fazia há um século atrás, no Porto. Dos mais pequenos aos mais velhos, muitos embarcaram nesta viagem pelos carris para comemorar o centenário da República, entre turistas que aproveitaram para conhecer a cidade. </p>
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Apesar do frio, a boa disposição era geral naquele eléctrico histórico que só costuma circular no Dia Internacional dos Museus. Alguns passageiros falaram das vantagens da República, do exemplo brasileiro e do presidente Lula da Silva, que "veio do povo", e defenderam um reforço de poderes.
Filipe Neves, de 36 anos, morador no Porto, estava com a sobrinha Raquel Alexandra, de 10 anos, prestes a entrar no exemplar do eléctrico que, em 1910, circulava com o mesmo número. "Quis fazer-lhe esta pequena surpresa. Ela não sabia o que era andar de eléctrico", explicou, após cumprir o trajecto entre a igreja de S. Francisco e o Passeio Alegre, ao longo do rio. Uma iniciativa enquadrada no programa de comemorações da Associação 31 de Janeiro.
Raquel já sabia o que é andar de eléctrico, após cumprir meia viagem. E sabe o que é a República? "Mais ou menos. Sei que a Monarquia acabou!", respondeu ao JN. Questionada depois sobre os pontos fortes da República, esta aluna do 5.º ano destacou "as discussões na assembleia". A seguir, ia visitar o Museu do Carro Eléctrico. A "casa" do eléctrico 100. Neste, seguiam Jorge Costa, de 56 anos, e a mulher Auxiliadora, de 52, que veio do Brasil.
Aquele casal de Gaia também aproveitou as comemorações para fazer o percurso. "Quis trazer a minha companheira a conhecer o eléctrico", disse Jorge Costa. "Ele trabalha há 40 anos na área dos carris", destacou, por sua vez, com orgulho, a mulher.
Apesar do "estado péssimo do país", o casal converge nas vantagens da República. "Precisamos que haja a possibilidade de o povo chegar ao poder", explicou Auxiliadora, para quem República é sinónimo de democracia, liberdade e evolução da humanidade. O regime, tal como existe em Portugal, "é melhor do que os outros", defende. E "não há ninguém" com "a superioridade total" que diz haver numa monarquia.
A propósito, deu o exemplo do Brasil e de Lula da Silva "que veio do povo e tornou-se presidente". A República "permitiu isso", destacou ao JN. "Numa monarquia, nunca será alguém do povo" o símbolo máximo do país. A propósito, Jorge Costa lembrou que Lula da Silva é ex-metalúrgico, "com formação mínima", tendo sido eleito pelo mérito e não escolhido por sucessão.
Em Portugal, este funcionário da CP diz que "estamos bem representados, porque o presidente preocupa-se com a parte económica do país". Crê que devia ter "mais poderes" e maior "interferência no caminho político que o Governo esteja a tomar". Só "vai dando umas dicas", quando devia, a seu ver, "impor ao Governo a vontade do povo". "O país não estaria como está", concluiu.
Se Jorge Costa conhece os eléctricos por dentro e por fora, Pedro Rocha era, ontem, o cobrador de serviço, que ia conversando com passageiros, como os jovens Miguel e Andreia Rodrigues.