A Assembleia da República teve, desde 1976, três presidentes que só foram eleitos à segunda volta, Teófilo Carvalho dos Santos, do PS, Francisco Oliveira Dias, do CDS, e Barbosa de Melo, do PSD.
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A última vez que um candidato a presidente da Assembleia foi a votos e não conseguiu uma maioria à primeira para ser eleito foi em 1991, mas o cenário pode repetir-se nesta segunda-feira, 20 anos depois, com o candidato proposto pelo PSD Fernando Nobre.
A candidatura do independente Fernando Nobre não reúne apoios, pelo menos declarados, nos restantes partidos, incluindo o CDS-PP, parceiro de coligação do PSD, e os sociais-democratas têm apenas 108 dos 230 lugares do Parlamento.
A eleição do presidente da Assembleia da República depende de uma maioria absoluta dos votos dos deputados em efetividade de funções, ou seja, 116.
Nos últimos 35 anos, nunca aconteceu um candidato a presidente da Assembleia falhar a eleição duas vezes sucessivas ou acabar a retirar a candidatura.
O primeiro candidato a presidente da Assembleia da República a não ter votos suficientes para ser eleito foi Teófilo Carvalho dos Santos, em 1978, logo na I Legislatura. O Parlamento tinha ainda 250 deputados, dos quais 107 eram do PS, e não houve candidaturas adversárias.
Apesar disso, Teófilo Carvalho dos Santos só obteve 98 votos favoráveis à primeira volta.
Dias depois, a votação repetiu-se dias e o resultado foi diferente: o socialista foi eleito com 134 votos, o que foi saudado com aplausos da bancada do PS e dos deputados independentes Aires Rodrigues e Carmelinda Pereira, segundo regista a ata da sessão.
Na II Legislatura, numa eleição disputada entre Teófilo Carvalho dos Santos e Francisco Oliveira Dias, do CDS, em 1981, no tempo da Aliança Democrática (AD) com o PSD, voltou a não haver votos favoráveis suficientes à primeira volta.
Embora a AD tivesse no total 134 deputados, Francisco Oliveira Dias conseguiu apenas 97 votos favoráveis, contra 98 para Teófilo Carvalho dos Santos. As bancadas da esquerda festejaram o resultado aplaudindo de pé, mas a Mesa logo comunicou que os votos validamente expressos não atingiam a maioria necessária para proclamar eleito um dos candidatos.
A votação repetiu-se e Francisco Oliveira Dias saiu vencedor, com 128 votos a favor, contra 108 votos no candidato do PS. No final, quem aplaudiu foram o PSD, o CDS e o PPM.
A terceira vez que houve uma segunda volta na eleição do presidente da Assembleia foi na VI Legislatura, em 1991.
O PSD, que tinha uma maioria absoluta de 135 deputados em 230, propôs o nome de António Moreira Barbosa de Melo, enquanto o PS, que tinha 72 lugares no Parlamento, candidatou Alberto Marques Oliveira e Silva.
Nem todos os sociais-democratas terão votado em Barbosa de Melo, porque este só teve na primeira votação 109 votos a favor, contra 71 em Oliveira e Silva. De imediato houve uma segunda votação, e o candidato do PSD conseguiu então uma maioria de 117 votos, contra 62 no seu adversário do PS.
O actual Regimento da Assembleia da República estabelece que, se nenhum dos candidatos obtiver uma maioria absoluta, procede-se de imediato a uma segunda votação, à qual concorrem os dois candidatos mais votados que não tenham retirado a candidatura. Se nenhum candidato for eleito, é reaberto o processo.