Bloco acusa Governo de tentar mudar decisões do Constitucional "na secretaria"
O Bloco de Esquerda mostrou, esta terça-feira, o seu "desconforto" com a conferência de líderes agendada para discutir as decisões recentes do Tribunal Constitucional, acusando o Governo de tentar mudar as decisões da entidade "na secretaria".
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"A Assembleia da República [AR] não pode ser instrumentalizada pelo Governo por uma agenda pessoal do próprio Governo, e a realização desta conferência de líderes não pode determinar este posicionamento da AR", disse o líder parlamentar bloquista Pedro Filipe Soares.
O deputado falava em conferência de imprensa no parlamento, reagindo ao pedido do Governo para que a AR solicite ao Tribunal Constitucional (TC) uma "clarificação técnica" do acórdão de sexta-feira.
"Perante esse desconforto iremos dizer que não aceitamos que o Governo não faça outra coisa que não o cumprimento da lei", declarou Pedro Filipe Soares, para quem os juízes do Palácio Ratton deram "uma vitória aos trabalhadores" e o Governo "não pode agora tentar mudar o resultado na secretaria".
"Da nossa parte, estaremos do lado da justiça e daquela que é uma decisão inequívoca e sem dupla interpretação do TC: que se pague aquilo que é de direito pagar, a partir do momento da decisão do TC", sustentou.
O bloquista acusou ainda o executivo de tentar "ganhar tempo para não cumprir com aquela que é a decisão do TC".
O Governo pretende que o TC esclareça os efeitos do seu acórdão no pagamento dos subsídios aos funcionários públicos e se a decisão dos juízes se aplica a partir de 30 ou 31 de maio.
Na carta enviada pelo primeiro-ministro à presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, a que a Lusa teve acesso, Pedro Passos Coelho sublinha que "na análise do acórdão e dos seus fundamentos foi detetado um conjunto de questões de ambiguidade ou obscuridade para cujo esclarecimento é ainda e também competente o TC".
Na missiva, o chefe de Governo lembra que o autor das normas declaradas inconstitucionais é a Assembleia da República, apelando por isso a que "num espírito de cooperação interinstitucional", Assunção Esteves promova junto do TC a aclaração de duas matérias: por um lado, a determinação dos efeitos do 'chumbo' dos cortes dos funcionários públicos no processamento dos subsídios de férias e de Natal; por outro, esclarecer se a decisão dos juízes do Palácio Ratton se aplica a partir de 30 de maio (data em que foi divulgado o acórdão) ou no último dia do mês de maio, caso em que os seus efeitos apenas abrangerão o mês de junho.
Nos fundamentos do seu pedido a Assunção Esteves - que já convocou uma conferência de líderes extraordinária para quarta-feira às 14.30 horas para debater o tema -, o primeiro-ministro sublinha que o esclarecimento destas questões "é fundamental para a exata definição das balizas e condições que definem o âmbito de atuação do Governo".