O Presidente da República anunciou, este domingo, que vai manter em funções o Governo PSD-CDS, sob críticas da oposição, após uma crise política de três semanas, sem nada dizer sobre a remodelação governamental já anunciada pelo primeiro-ministro.
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Numa comunicação ao país, à hora dos telejornais, Cavaco Silva alertou que não abdica de nenhum dos seus poderes constitucionais, numa referência indirecta ao poder de dissolução do Parlamento, e apelou ao PSD e CDS para preservarem "as vias de diálogo" com a oposição e o PS, apesar das falhadas negociações com a oposição e o PS para um "compromisso de salvação nacional".
"Não tendo sido possível alcançar um compromisso de salvação nacional, considero que a melhor solução alternativa é a continuação em funções do actual Governo, com garantias reforçadas de coesão e solidez da coligação partidária até ao final da legislatura", afirmou o Presidente, que a 10 de julho propôs o diálogo entre os partidos.
Falhada a negociação entre PSD, PS e CDS, com a presença de um consultor, David Justino, Cavaco Silva anunciou para hoje a sua decisão de manter o executivo, a "segunda melhor solução alternativa", mas nada disse da anunciada remodelação do Governo, em que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, propõe o ministro demissionário dos Negócios Estrangeiros e líder do CDS, Paulo Portas, para vice-primeiro-ministro.
Nem o Governo nem os partidos da maioria adiantaram qualquer calendário para as mexidas no executivo nem para a data da moção de censura em que o Governo irá apresentar, segundo Cavaco, "as principais linhas de política económica e social até ao final da legislatura".
Em maré de alertas, o Presidente da República apontou ainda uma direcção ao Governo: "aprofundar as medidas de estímulo ao investimento e de captação do investimento externo, onde se incluem a estabilidade e a previsibilidade do sistema fiscal."
Do lado da oposição, o tom foi de crítica.
Pelo PS, o dirigente nacional Alberto Martins afirmou que com a decisão do Presidente da República de não convocar eleições antecipadas "vai ficar tudo na mesma" e que "discorda politicamente" da opção de Cavaco Silva, embora garanta que os socialistas a vão "respeitar" no "plano institucional".
Já o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, acusou o Presidente de ter passado de "defensor a promotor" de um Governo da maioria PSD/CDS-PP que está "morto".
Pelo Bloco de Esquerda, o coordenador João Semedo acusou hoje Cavaco Silva de estar "mais preocupado em proteger os partidos que o elegeram e em salvar o Governo".
Os dois partidos da maioria reagiram com agrado.
Pelo PSD, o vice-presidente Pedro Pinto declarou que o seu partido está disponível para continuar o diálogo com todos os partidos e parceiros sociais, e aberto a todos os contributos e "boas ideias", independentemente da sua "cor partidária".
Pelo CDS-PP, o vice-presidente Nuno Melo considerou que a decisão de manter o governo em funções foi a "mais acertada", garantindo que a "atual maioria é coesa" e tem condições de governabilidade.
Do lado dos parceiros sociais, UGT e CGTP tiveram reacções diferentes.
O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, afirmou que a convocação de uma greve geral não está afastada face à decisão do Presidente da República e acrescentou que a direcção da central vai debater formas de luta na terça-feira.
Carlos Silva, líder da UGT, considera que o "Governo sai reforçado" após a declaração hoje ao país de Cavaco Silva, "na medida em que este aposta na mesma equipa que criou esta crise".