Cerca de 30 portugueses, todos jovens, formados, indignados e solidários com a situação que o país atravessa, juntaram-se, este sábado, em frente da embaixada de Portugal em Paris para contestar as políticas do Governo e pedir um país "com oportunidades".
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O apelo para a manifestação "Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas!" surgiu na Internet, através das redes sociais.
O protesto foi inicialmente organizado por algumas pessoas em Lisboa, mas a iniciativa acabou por ser acolhida em 40 cidades, dentro e fora do país.
Cassilda Pascoal, 30 anos, licenciada em Cinema e mestre em Política Cultural Autárquica, saiu de Portugal há uma semana para procurar emprego em França e tomou a iniciativa de chamar os portugueses a viver em Paris para a rua.
"Vim à sorte porque não tinha nada a perder. Em Portugal não havia oportunidades. Procurei, tentei ao máximo, e vou continuar a tentar. Não aceito que nos queiram fazer acreditar que o desemprego é uma oportunidade", disse à Lusa.
Para esta jovem, "faz todo o sentido que as pessoas se organizem", mesmo que o resultado seja pouco expressivo, ou apenas "simbólico", como o de hoje.
"Mas há um dado muito curioso aqui, que é a faixa etária destas pessoas. Se falarmos com elas percebemos que vieram porque o seu próprio país lhes fechou as portas. Vieram à procura de oportunidades que o seu país não lhes dava", acrescentou.
João Gaspar, 25 anos, também ilustra este argumento da organizadora: licenciado em Sociologia, foi para Paris à procura de emprego porque "em Portugal não tinha oportunidades".
"Vim hoje aqui para mostrar a minha solidariedade para com quem está lá. Sinto-me afetado, apesar de não pagar impostos em Portugal e porque esta situação não me permite regressar", afirmou.
Este jovem está a trabalhar como tradutor, com um contrato a termo: "Não tenho ideia do que se segue, depende das oportunidades que surgirem. Mas se pudesse voltar e ter uma boa vida em Portugal voltava", concluiu.
O protesto chegou a conta-gotas, a partir das 15 horas (hora local), e foi ganhando forma de conversa de café: 30 jovens, uns emigrados, outros de passagem, todos formados, trocaram histórias e percursos, opinões e expetativas.
No fundo das conversas, faixas de pano: "Precários nos querem, rebeldes nos terão", lia-se na maior de todas.
Hugo Macedo, 29 anos, investigador na Universidade Denis Diderot, na área de informática, é de Braga. Chegou a Paris em abril.
"Vim manifestar-me hoje porque não concordo com os cortes em Portugal. Acho que a situação é muito passiva. Há um contrato social a ser violado em prol de instituções que olham para a situação portuguesa como [se fosse] responsabilidade das pessoas", afirmou.
O investigador considera que "as instituições pressionam o Governo e o Governo, em vez de defender as pessoas, obriga-as a pagar pelos gastos que foram provocados pelos seus amigos, por negociatas que acabam por ter grandes lucros durante anos, à custa dos trabalhadores".
Para Ângelo Ferreira de Sousa, 37 anos, tradutor e professor de português, é preciso que as pessoas saiam à rua para "afirmar que a austeridade não é sistema".
"É preciso acabar com com essa receita. Há muitos especialistas a dizerem isso", defendeu.
Ângelo Ferreira considera que este protesto juntou apenas algumas dezenas de pessoas porque os portugueses em França "são silenciosos, mantêm uma grande distância da vida em Portugal e já perderam o hábito da participação política".
O protesto terminou às 17.30 horas.