Os académicos ou investigadores portugueses no estrangeiro que têm dificuldades em regressar a Portugal devem criar as suas próprias oportunidades, defende o ministro da Ciência, Mariano Gago.
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No fórum da associação luso-americana de pós-graduados (PAPS), sábado e domingo, na Universidade de Carnegie Mellon em Pittsbugh, o ministro ouviu críticas à falta de oportunidades e mobilidade no ensino superior em Portugal, embora também relatos de quem tenha regressado com várias ofertas, depois de ter batido à porta das faculdades.
"Uma coisa que me chamou a atenção nos EUA foi o elevado número de oportunidades que há para os professores dentro dos departamentos, de concursos e a mobilidade dos professores de departamento para departamento e de grupos de investigação para grupos de investigação. Olho para Portugal e não vejo isso acontecer", lamentou um investigador de Carnegie Mellon, Ricardo Lima.
Outro manifestou "desejo imenso" de voltar, sem oportunidades na sua especialidade científica, enquanto uma investigadora afirmou que a qualidade de investigação praticada na sua área desincentiva o regresso.
Menos barreiras
O ministro e o secretário de Estado Manuel Heitor responderam com as recentes alterações regulamentares, que "removeram grande parte barreiras legais e institucionais" no acesso à docência e investigação, embora a mudança na "prática" seja mais demorada.
"Quem quiser voltar para Portugal e seja de muita qualidade é muito bem-vindo mas não deve pôr-se à espera. Deve ir ter com as instituições. E se está no meio científico sabe quem é quem, sabe quem são as pessoas que trabalham bem, quem são os colegas que respeita. E é com esses que deve colaborar", disse à Lusa o ministro da Ciência, no final do encontro.
Nos últimos anos, muitos regressaram a Portugal com contratos-programa da Fundação para a Ciência e Tecnologia, e estão a chegar ao fim destas bolsas sem perspectivas de trabalho, segundo a presidente da PAPS, Anabela Maia.
"Este programa atraiu muitos investigadores de renome, alguns estavam a acabar os seus doutoramentos e voltaram a Portugal. (...) Agora as pessoas estão a encontrar problemas. Não quer dizer que não se crie essa continuidade entretanto, mas para já as perspectivas são de voltar a sair", disse à Lusa.
O ministro afirma que "vai haver condições para ficarem nas empresas e nas universidades".
"A reforma das universidades foi muito importante, porque obrigou a uma renovação de quadros e a uma abertura muito maior, por concurso, dos melhores às melhores posições", afirmou à Lusa.
No plano empresarial, o secretário de Estado Manuel Heitor lembrou os casos da Critical Software, Biotecnol, ou Alfama, que "nasceram, sem excepção, do envolvimento de algumas pessoas com capacidade de liderança em redes de conhecimento".
"Há oportunidades que se criam e a participação no ambiente em que vivem [nas universidades norte-americanas] é particularmente estimulante para criar oportunidades", afirmou perante um auditório de cerca de uma centena de estudantes.
Mais investimento
Em Portugal, afirmou, o investimento privado em investigação e desenvolvimento passou de menos de 0,3 por cento do PIB em 2005 para 0,8 por cento do PIB (1.250 milhões de euros anuais) em cinco anos.
Grande parte deste esforço concentra-se em pequenas empresas, uma vez que as grandes como Portugal Telecom, EDP e a banca representam apenas 30 por cento do total.