
Ed Bailey/AP
O banco Citigroup já tinha proposto em 2004 "swaps" a Portugal para baixar artificialmente o défice, em duas reuniões realizadas a 13 de agosto e 27 de setembro desse ano, segundo documentos distribuídos pelo Governo.
O parecer do IGCP - Agência para a Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, de agosto de 2005, que recusou que Portugal contratasse 'swaps' aos bancos Citigroup e ao Barclays para reduzir o défice orçamental desse ano - um dos documentos distribuídos pelo Governo - refere que já no ano anterior o Citigroup tinha feito propostas no mesmo sentido ao Governo socialista liderado por José Sócrates.
"As propostas apresentadas pelo Citigroup à República, em 1 de julho de 2005, correspondem quase integralmente (há ligeiras nuances no momento da ocorrência dos 'cash flows', embora os objetivos e os instrumentos sejam exatamente os mesmos), às que tinham sido apresentadas a 13 de agosto e a 27 de setembro de 2004", lê-se na nota de rodapé do parecer do IGCP, distribuído pelo Governo.
Essas propostas, "tinham tido parecer negativo da AGD (Área de Gestão da Dívida) por não se enquadrarem nas normas de procedimentos para a contratação de derivados financeiros em vigor no IGCP", é acrescentado no documento.
A proposta de 'swap' que o Citigroup fez, em 2005, a assessores económicos do Governo PS para baixar o défice orçamental levou Joaquim Pais Jorge a pedir, esta quarta-feira, a demissão de secretário de Estado do Tesouro, cargo que ocupava desde o início de julho.
De acordo com o documento divulgado em primeira mão pela revista "Visão" na quinta-feira, Joaquim Pais Jorge consta da equipa responsável pela proposta apresentada pelo Citigroup, banco em que era diretor.
Num comunicado enviado na terça-feira pelo Ministério das Finanças, o gabinete liderado por Maria Luís Albuquerque disse que o documento que implica Joaquim Pais Jorge nos contratos 'swap' foi manipulado e indica que uma das "discrepâncias" é "um organigrama inverosímil, que não consta da apresentação original".
Apesar disso, na quarta-feira, Pais Jorge apresentou a demissão, afirmando que não tem de se "sujeitar" ao tratamento mediático de que foi "alvo nos últimos dias".
"Foram exploradas e distorcidas declarações que fiz sempre de boa-fé. É este lado podre da política, de que os portugueses tantas vezes se queixam, que expulsa aqueles que querem colocar o seu saber e a sua experiência ao serviço do país", apontou Joaquim Pais Jorge.
De acordo com o currículo que ainda consta na página do Governo, Pais Jorge, nascido em 1963 e licenciado em Gestão de Empresas pela Universidade Católica, teve várias funções na área de Corporate Bank do Citibank em Portugal, entre 1990 e 2009, tendo sido diretor desde 1999.
Depois de sair do Citigroup, em 2009, foi diretor Departamento económico e financeiro da Direção de Concessões da Estradas de Portugal (entre 2009 e 2012) e membro das Comissões de Negociação dos contratos das concessões rodoviárias Interior Norte, Beira interior, Algarve, Norte Litoral, Beiras Litoral e Alta, Douro Litoral e Litoral Centro.
Antes de ir para o Governo, era presidente da Parpública, a 'holding' que gere as participações do Estado.
