O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, destacou o legado deixado pelo general Humberto Delgado ao fundar a TAP, considerando que a transportadora nacional é um garante da soberania nacional.
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"A importância desse grande legado que ainda hoje é património do país, e que é a TAP, a companhia aérea nacional, e a visão que há 70 anos atrás levou o general Humberto Delgado, então diretor-geral de Aeronáutica Civil, a empreender a criação desta companhia como grande forma e instrumento de articulação de Portugal com o mundo é a visão que sustenta a TAP ainda hoje como um grande garante da nossa própria soberania nacional", disse António Costa.
O autarca falava em Lisboa, no cinema São Jorge, onde decorreu a evocação dos 50 anos do assassinato de Humberto Delgado, pela polícia política do Estado Novo, com a presença de Iva Delgado, a filha do general, que lançou um livro de memórias do pai.
António Costa leu ainda uma carta que recebeu do presidente da TAP, Fernando Pinto, em que este apoia a iniciativa da Câmara de Lisboa de propor ao Governo a atribuição da designação de Aeroporto Humberto Delgado ao Aeroporto da Portela.
Deputados do PS, PSD, CDS, PCP e Bloco de Esquerda apelaram também ao Governo que seja dado ao aeroporto de Lisboa o nome do General Humberto Delgado, sublinhando o "papel ímpar" daquele militar na história da aviação em Portugal.
Humberto Delgado tornou-se conhecido como "o general sem medo", por ter desafiado o então chefe do Governo, António Oliveira Salazar, afirmando que o demitiria se ganhasse as eleições presidenciais de 1958.
A candidatura do general obteve numerosos apoios por todo o país, através de manifestações que foram seguidas de perto e reprimidas pela PIDE e pelo Exército. Humberto Delgado tornou-se assim numa figura que o regime ditatorial de Salazar pretendia "neutralizar".
A 13 de fevereiro de 1965, Humberto Delgado e a sua secretária Arajaryr Campos foram assassinados perto de Badajoz, por uma brigada da polícia política (PIDE - Polícia Internacional de Defesa do Estado) chefiada por Rosa Casaco, que o atraiu a este local convencido de que se ia encontrar com militares oposicionistas.
Contudo, perante a Justiça, e após o julgamento em tribunal militar no ano de 1981, "o verdadeiro objetivo da Operação Outono [nome de código da armadilha da PIDE] era apenas o rapto e prisão do general" e o seu homicídio, às mãos de Casimiro Monteiro (elemento da brigada de Rosa Casaco), foi uma derrapagem aos planos estabelecidos.
Esta sexta-feira, na cerimónia de evocação do seu assassinato, a historiadora Irene Pimentel falou do papel da PIDE e do chefe do Governo, Oliveira Salazar. Para a historiadora, a polícia do regime encarava o general como adversário perigoso que devia ser neutralizado.
"Quanto a mim, também esse era o caso do ditador [Salazar] que nunca esqueceu as eleições de 1958, o tal golpe de Estado constitucional, e sabia pela tentativa de Beja [golpe de Beja de 1962] que Humberto Delgado não deixaria de atuar pelas armas contra o regime", defendeu.
A neutralização do general "era um objetivo também expectável da parte de Salazar. É provável que não tenha sido ele a lançar a Operação Outono e que terá sabido da mesma na véspera do crime", mas, uma vez inteirado da ida de uma brigada a Espanha, "Salazar teria aprovado tacitamente essa atuação limitando-se a dizer: tenham muito cuidado", sustentou a historiadora.