Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, defendeu, esta quinta-feira, em Lisboa, a "sensatez nas decisões e na maneira de as comunicar" como fator essencial para o sucesso dos programas de ajustamento, que requerem "condições políticas e sociais de sustentabilidade".
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Durão Barroso falava na sessão inaugural do Seminário Diplomático, subordinado ao tema "Projetar Portugal", que decorreu na Fundação Champalimaud, em Lisboa.
Para o presidente da Comissão Europeia são necessários "compromissos e consensos" entre instituições, forças políticas e parceiros sociais.
Admitindo que em Portugal, à semelhança de outros Estados-membros da União Europeia, se vive uma situação de "verdadeira emergência social", Durão Barroso sublinhou que se torna "fundamental gerir os custos da contração económica" e ter em conta o seu impacto nas pessoas.
Daí que tenha afirmado que "a Comissão Europeia está naturalmente disposta a analisar as trajetórias de cumprimento dos programas e a fazer os ajustamentos e calibragens que se revelem necessários de forma a minimizar os custos sociais".
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, defendeu ser do interesse de Portugal "observar com atenção a evolução das circunstâncias institucionais" que afetam a situação portuguesa, e uma comparação, não entre países, mas sim de contextos institucionais semelhantes.
"O que é do interesse de Portugal é saber verificar e, se necessário, no momento certo, invocar a regra segundo a qual situações institucionais semelhantes merecem às vezes alterações que são potenciadoras da forma como se vive o processo de ajustamento, se acelera o regresso aos mercados ou se melhora a expectativa de crescimento económico", disse Portas.
Reiterando que não é do interesse nacional comparações com outros países "com situações diferentes da nossa" e com "processos de ajustamento mais difíceis", Paulo Portas sublinhou que em Portugal se fizeram "reformas importantes" envoltas num "clima de coesão e concertação sociais essenciais para definir a atitude de Portugal, que é diferente e é própria".
Durão Barroso defendeu que o discurso em torno da crise, e da eventual responsabilidade da União Europeia nessa mesma crise, se tem feito de "algum desconhecimento", mas até mais de "desonestidade intelectual", mas admitiu que a situação teve o condão de revelar "sérias deficiências", nomeadamente uma "construção imperfeita" na "arquitetura da união económica e monetária".
O presidente da Comissão Europeia afirmou que se avançou para uma moeda única sem políticas económicas "verdadeiramente coordenadas" ou instrumentos para fazer face a situações de instabilidade financeira, ou seja, "um navio preparado para o bom tempo que se revelou demasiado frágil quando veio a tempestade".
"A resposta que está a ser dada neste momento na Europa vai no sentido de resolver estas insuficiências. Estamos a construir um navio de maior porte no meio da tempestade e acho que todos concordarão que não é fácil construir um navio a meio da tempestade", declarou.
Sobre a União Europeia Paulo Portas defendeu ainda a eliminação dos preconceitos que geram a ideia de que existem "países do norte e países do sul", sublinhando que a "Europa ou é coesa ou o preconceito perde-a e divide-a".
Na mesma linha Durão Barroso pediu mais solidariedade aos líderes europeus, nomeadamente em termos orçamentais, uma vez que não é possível, em simultâneo, defender crescimento e um orçamento que o limite".