Iniciativa do JN honrou vencidos e descobriu a esquecida bandeira usada na revolta republicana do Porto.
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Fortes foram as emoções no passeio com que, sob a batuta de Germano Silva, encerrámos a série de três visitas a locais relacionados com a revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891. Na despedida, os cerca de cem participantes deram vivas à República, após ouvirem "A Portuguesa", interpretada pelo Rancho Folclórico do Porto na versão original, aquela em se marchava contra os bretões, não contra os canhões.
De algum modo, o passeio era consagrado ao que ficou da revolta. A semente republicana que continuaria a germinar, já o sabemos, mas, também, a memória dignificadora dos vencidos. Daí que, depois de uma passagem pelo Museu Militar do Porto, onde pode ser vista uma maqueta ilustrativa da revolta e uma pequena exposição alusiva ao 31 de Janeiro, o passeio tenha ganho contornos de homenagem, ao entrar no cemitério do Prado do Repouso.
Contando com a presença de Artur Santos Silva, presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, o grupo caminhou rumo ao monumento aos vencidos do 31 de Janeiro. Pelo caminho, porém, Germano Silva aproveitou para honrar a família Santos Silva, linhagem de ilustres portuenses de que Artur é a quarta geração. Primeiro, emocionando-se ao falar junto ao jazigo de Artur Santos Silva, pai deste e um dos homens que lançaram a candidatura presidencial de Humberto Delgado, depois ao parar junto a outro jazigo, o de Eduardo Santos Silva, o avô, para onde foram trasladados, em tempos os restos mortais do bisavô Dionísio Ferreira dos Santos Silva, figura preponderante na conspiração que levou ao 31 de Janeiro. Lembrados foram, também, os revoltosos sepultados junto ao monumento, militares, como o alferes Malheiro ou o sargento Abílio, ou civis, como Basílio Teles e o actor Verdial.
Fascinante foi, também, ver a bandeira que foi hasteada, na madrugada da revolta, nos Paços do Concelho. Trata-se do estandarte do Centro Democrático Federal 15 de Novembro, que estava esquecida na reserva do Museu Nacional de Soares dos Reis (juntamente com a condecoração que lhe foi imposta, na década de 1920, por António José de Almeida), e foi descoberta por insistência do próprio Germano Silva. No museu, entre outros artigos, está também exposto o dólman envergado, naquela trágica madrugada, pelo alferes Malheiro.