<p>Os contactos com os accionistas da Cosec ainda estão a decorrer, mas o primeiro-ministro garantiu, esta quarta-feira, que o Estado vai comprar a maioria do capital da principal companhia de seguros de crédito à exportação a operar em Portugal.</p>
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A operação, que muitos interpretam como nacionalização, visa segundo José Sócrates, assegurar às empresas o apoio necessário às exportações, resolvendo as dificuldades de acesso aos seguros de crédito que as empresas exportadoras nacionais enfrentam.
Apesar do anúncio de Sócrates, na Assembleia da República, o Ministério das Finanças referiu que "ainda não é possível dar pormenores sobre o valor da transacção nem adiantar o timing em que a operação estará concluída".
José Sócrates, por seu turno, afirmou que há "garantias que os privados estão disponíveis para vender. O Estado quer ter uma intervenção directa no mercado de seguro de crédito à exportação, assegurando que as empresas têm da parte do Estado o apoio suficiente que lhes permita exportar", explicou.
A Cosec foi criada em 1969 pelo Estado português e, em 1989, foi privatizada. Actualmente, os dois accionistas, com 50% cada um, são o banco português BPI e a Euler-Hermes, companhia francesa que pertence ao grupo alemão Allianz e que é líder mundial no negócio de seguros de crédito. Contactados pelo JN, os dois accionistas não comentaram a intenção de compra por parte do Governo português.
A ideia da "renacionalização" de uma companhia de seguros de crédito foi defendida na semana passada pelo presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), José António Barros, que ontem disse acreditar que a questão "está resolvida".
"O que se pretendia era a compra de um operador nacional e, sobretudo, a compra da parte portuguesa da empresa, mantendo um parceiro de negócios e a base de dados que este possui de todos os clientes finais", explicou José António Barros.
Na actual conjuntura económica, o presidente da Associação Industrial Portuguesa - Confederação Empresarial (AIP-CE), Jorge Rocha de Matos, considera "positiva a possibilidade de o Estado, transitoriamente, poder assumir o controlo da Cosec". Rocha de Matos salienta, no entanto, que "deverá ficar assegurada a possibilidade de revenda a privados após a superação da actual crise económica-financeira".
Sectores como o têxtil, vestuário e calçado estão entre os mais prejudicados com a actuação das seguradoras de crédito, com várias empresas a deixar de realizar vendas para o exterior por não conseguirem este tipo de seguro, que permite vender a crédito com segurança, cobrindo riscos de falência do cliente, atrasos de pagamento e até riscos de natureza política. Paulo Vaz, da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), defende que se vive "uma situação de contingência" e isso justifica "que o Estado tome uma participação na Cosec até que as coisas estabilizem".