<p>A Conferência Episcopal Portuguesa considera inaceitável qualquer forma de eutanásia, numa nota pastoral a aprovar esta semana, anunciou o porta-voz da instituição.</p>
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"O documento declara que é inaceitável qualquer forma de eutanásia e uma delas será o chamado suicídio assistido", afirmou hoje em Fátima o padre Manuel Morujão, numa conferência de imprensa no âmbito da 173.ª assembleia plenária da CEP.
Para o porta-voz da CEP, a eutanásia "pode parecer um acto de liberdade, mas, ao fim e ao cabo, trata-se da supressão da própria liberdade", realçando que "por motivos antropológicos e ainda mais por motivos de fé não se pode aceitar a eutanásia".
Manuel Morujão considerou que diferente é a "obstinação ou encarniçamento terapêutico", que explicou como uma forma de, "a todo o custo, manter na vida uma pessoa".
"Certamente, a Igreja reconhece que qualquer pessoa não está obrigada a recorrer a meios extraordinários, ficar ligado indefinidamente às máquinas", disse, embora reconhecendo que "nestes casos a fronteira não é tão clara", mas "será para decidir por equipas médicas, familiares, sobretudo a própria pessoa quando tem capacidade para exprimir a sua vontade".
Para os bispos portugueses, a resposta à eutanásia "vai na linha dos cuidados paliativos", no âmbito médico e de enfermagem, e do acompanhamento amigo, de forma a aliviar ou até eliminar a dor física, psíquica e espiritual.
"Deve-se ajudar a viver até ao fim e não antecipar a morte", reiterou, defendendo a necessidade de dignificar ao máximo o morrer, mas não o antecipando.
O responsável considerou que, estando legalizada a eutanásia, "qualquer pessoa com uma doença grave fica a pensar 'qualquer dia sou o próximo, estou a ser pesado para a minha família, para os meus amigos, para os que cuidam de mim'".
"A legislação não será inócua, porque será uma pressão forte, psicológica", declarou.
Quanto ao testamento vital, "é perfeitamente aceitável", considerou o porta-voz da CEP, advertindo, contudo, que "não é para abrir as portas à eutanásia".
"É para respeitar, quanto possível, a vontade de quem faz o testamento ou quem faz essas directivas antecipadas de vontade", esclareceu.
A nota pastoral sobre a eutanásia e o testamento vital, intitulada "Cuidar da vida até à morte", pretende ser um contributo para a reflexão ética sobre o morte, que "muitas vezes se procura esconder, mas é uma realidade inevitável", do qual se deve falar pedagogicamente e com serenidade, acrescentou o responsável.