<p>Pacheco Pereira regressou às lides parlamentares e irritou o chefe de Governo. A estratégia do PSD foi assim delineada: a líder do partido realçava que o PS perdeu a maioria absoluta e cabe-lhe, por isso, procurar entendimentos no hemiciclo sem estar à espera de uma Oposição submissa, enquanto o cabeça-de-lista por Santarém "surfava" a onda da corrupção ligada a ex-governantes socialistas, sem se referir ao caso "Face Oculta".</p>
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Pacheco "picou" Sócrates com a responsabilidade política de quem nomeia os gestores públicos envolvidos em "redes tentaculares" e este retorquiu, dizendo que de "educador da classe operária" o ex-comentador "passou agora à condição de educador da classe política".
A sessão foi aberta pelo discurso de 18 páginas do primeiro-ministro que, depois de referir não temer o julgamento dos cidadãos nas urnas, omitiu a frase: "Pelo contrário, eu sempre me dei bem com o julgamento dos portugueses".
Antes da pausa para almoço, Jaime Gama ainda descompôs o centrista Ribeiro e Castro por ter pedido a defesa da honra quando não tinha motivos para tal. Eram 13.45 horas, o debate durava já há quase quatro horas e o apetite apertava.
A manhã ficou ainda assinalada pela estreia da vice-parlamentar socialista, a independente Inês de Medeiros, numa interpelação à bancada do Governo sobre os direitos das carreiras artísticas. Titubeante.
Na bancada do BE, a táctica foi deixar brilhar o novo presidente do grupo, José Manuel Pureza. Francisco Louçã ainda fez uma pergunta matinal a Sócrates, mas apenas sobre Educação, e não "martirizando" o chefe do Governo como na anterior legislatura.
Os bloquistas vangloriaram-se pelo alargamento dos critérios de atribuição do subsídio de desemprego como uma bandeira sua e convergiram com o PSD na acusação de que o programa de Governo diz quase nada sobre como vai combater a corrupção. E que os códigos de conduta das empresas públicas não têm conteúdo.
Para marcar a diferença, Paulo Portas, que deveria subir ao púlpito e intervir depois de Manuela Ferreira Leite, cerca das 15.30 horas, foi protelando a intervenção. O líder do CDS-PP conseguiu falar depois de todos os líderes da Oposição e do ministro das Finanças e de Estado. Para dar "lições" aos socialistas de como governar com maioria relativa.
Se Jerónimo de Sousa - com um "look" sóbrio - insistiu no desemprego, as duas frases mais metafóricas da sessão couberam a Miguel Frasquilho (PSD) - ao dizer que "o país parece o Titanic a afundar-se enquanto a orquestra, que é o Governo, continua a tocar" - e a Teixeira dos Santos, que, mostrando ser um dos pilares mais sólidos do Executivo, disse numa resposta que "se não comprarmos a cana agora, não haverá peixe para ninguém no futuro".