Alfredo Barroso, um dos fundadores do PS, anunciou que vai deixar o partido. Acusa o líder socialista António Costa de vassalagem à China e de faltar ao respeito aos milhares de portugueses desempregados.
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Militante número 15 do PS, Alfredo Barroso está indignado com as declarações de António Costa, num encontro com cidadãos chineses, a 19 de fevereiro, por ocasião do ano novo chinês. O líder do PS agradeceu o investimento chinês e disse que o Portugal está "bastante diferente" do que era há quatro anos.
"Sou um dos fundadores do PS (em 1973) e sou, hoje, o militante número 15 do partido (com as quotas em dia). Mas já chega! Nunca me passou pela cabeça que um secretário-geral do PS se atrevesse a prestar vassalagem à ditadura comunista e neoliberal da República Popular da China, e se atrevesse a declarar, sem o menor respeito por centenas de milhares de desempregados e cerca de dois milhões de portugueses no limiar da pobreza, que Portugal está hoje melhor do que há quatro anos. A declaração de António Costa é uma vergonha!", lê-se numa nota colocada no Facebook de Alfredo Barroso, intitulada "Depois da ignóbil "chinesice" de Costa, demito-me do PS, e é já!", que está apenas acessível aos amigos.
"Ainda esta semana, enviarei à direcção do PS (hoje tenho vergonha de escrever por extenso Partido Socialista) uma carta muito simples, sem considerandos ou justificações, solicitando, pura e simplesmente, a minha desfiliação do partido. Tenho 70 anos e quero acabar a minha vida com alguma dignidade e coerência. O que não é manifestamente possível continuando a militar no PS!", lê-se no texto, publicado às 22.46 horas de quarta-feira.
"Não, não vou aderir a qualquer outro partido. Mas vou apoiar e votar no Bloco de Esquerda, tentando contrariar o oportunismo daqueles que se tornaram dissidentes do BE aproximando-se do PS de António Costa, à espera de um «lugarzinho» na mesa do orçamento, ou seja, na distribuição de cargos num futuro governo", diz Alfredo Barroso, no "post" a que o "JN" teve acesso.
Sustentando que tem "orgulho" em ter passado pelo política sem se governar, termina com um ataque preventivo à estrutura do partido socialista. "Não duvido das miseráveis campanhas que a «ralé» que tomou conta do «aparelho» do PS é capaz de se atrever a desenvolver contra mim", diz Alfredo Barroso, que sai do PS "envergonhado" com as declarações de António Costa, proferidas a 19 de fevereiro, nas comemorações do ano novo chinês, no Casino da Póvoa de Varzim.
"Como nós dizemos em Portugal, os amigos são para as ocasiões. E numa ocasião difícil para o país, em que muitos não acreditaram que o país tinha condições para enfrentar e vencer a crise, a verdade é que os chineses, os investidores disseram presente, vieram e deram um grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela que estava há quatro anos", afirma António Costa, num vídeo divulgado por vários órgãos de comunicação social e no Facebook do eurodeputado do CDS Nuno Melo.
As declarações foram bem acolhidas pela Direita, que se multiplicou em mensagens e comentários às palavras de António Costa. O líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, considera que "fugiu a boca para a verdade" ao líder socialista ao "reconhecer que o país está bem diferente em relação a 2011", com "uma perspetiva de crescimento e de futuro".
A assessoria de António Costa, citada pela SIC, criticou o aproveitamento destas palavras e sublinhou que o líder do PS disse que "o país está diferente", não está melhor.
O vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Vieira da Silva, acusou a maioria PSD/CDS de tentar desviar a atenção dos "reais problemas" e situou as declarações de António Costa no âmbito de uma cerimónia protocolar enquanto presidente da Câmara de Lisboa perante a comunidade chinesa.