O Governo da maioria PSD/CDS-PP e o Presidente da República foram alvos constantes dos oradores e vários milhares de pessoas presentes na conferência "Em defesa da Constituição, da Democracia e do Estado Social", em Lisboa, quinta-feira à noite.
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A cada referência ao executivo liderado por Passos Coelho e Paulo Portas ou a Cavaco Silva sucederam-se apupos, pateadas e gritos insistentes de "demissão", numa repleta Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, local escolhido pelo organizador, o antigo Presidente da República Mário Soares.
"Até que aparece um sujeito - já não me bastavam 30 anos de salazarismo - que resolve dizer isto: 'eu nunca tenho dúvidas e raramente me engano'. Nunca ouvi nenhum grande professor dizer isto. Pensei, alto, isto é uma segunda versão, atenuada, daquilo que já conheci", afirmou o fadista Carlos do Carmo, comparando o antigo primeiro-ministro, Cavaco Silva, com o antigo ditador português.
"Levar com este homem 20 anos. É inseguro, inculto, medroso. Alguma coisa tem de acontecer", desejou, criticando "esta esquerda, que é muito inteligente, mas que nunca se junta e entrega o poder à direita".
O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, Alfredo Bruto da Costa, acusou o Governo "abuso de poder", "deslealdade" e de ter "por ingénuo todo o resto do Mundo".
"Não basta a um Governo ter sido eleito para ser democrático. É condição necessária, mas não é suficiente. É preciso que seja democrático no modo de exercer o poder. O Governo movimenta-se como se tivesse caído de paraquedas numa selva, sem passado, memória, lei, nada. Sem nenhuma obrigação que não satisfazer os caprichos da 'troika'. Infelizmente para os governantes e para a 'troika', escasseiam moedas e sobram pessoas", sublinhou o jurista.
A eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias contrariou a ideia de que "Portugal é um protetorado", reforçando que se trata de "um Estado de direito e um país democrático".
"Referem-se ao país que governam como se de uma província ocupada se tratasse. Demitam-se, que já vão tarde. Utilizam a 'troika' como álibi e o Tribunal Constitucional como bode expiatório do seu falhanço colossal", afirmou, sobre a atuação do executivo PSD/CDS-PP, que disse ter uma "sanha contra a Constituição", argumentando que "o serviço público é a base e o cimento da democracia".
A sessão, que durou duas horas e 15 minutos, foi encerrada com um emocionado canto coletivo do hino de Portugal e Mário Soares terminou gritando "Viva a República".