Portugal tem que conseguir "conciliar a democracia com a estabilidade financeira", porque, "se a democracia não conseguir resolver a instabilidade financeira, a instabilidade financeira pode pôr em causa a democracia", considerou esta terça-feira o conselheiro de Estado Vítor Bento.
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"Se a democracia não conseguir resolver a instabilidade financeira, a estabilidade financeira pode pôr em causa a democracia. É um desafio que temos que resolver e julgo que todos queremos resolvê-lo em democracia", afirmou o economista numa intervenção no âmbito do ciclo de conferências da ACEGE - Associação Cristã de Empresários e Gestores.
Um dos "grandes desafios que, enquanto sociedade, temos pela frente é, em primeiro lugar, conciliar a democracia com a estabilidade financeira. Nós não temos uma experiência histórica de compatibilidade entre estes dois registos, o político e o financeiro. Não podemos viver sem estabilidade financeira porque dará mau resultado - e neste momento nem isso nos é permitido, acabou. E julgo que ninguém quer viver sem democracia. Portanto temos que conciliar estes dois objetivos, porque senão um dá cabo do outro", afirmou.
Vítor Bento considerou ainda que, "se alguma virtude o Orçamento do Estado para 2013 (OE2013) tem, é precisamente a de nos confrontar com os custos do Estado que nós comunitariamente resolvemos criar".
"O Estado que nós criámos, os direitos que fomos criando, têm um custo com que o OE2013 nos confronta. Somos, pela primeira vez, chamados a refletir e a decidir sobre o nosso futuro baseados na forçada assunção dos custos das escolhas que fizemos", afirmou o conselheiro de Estado.
Os portugueses, de acordo com Vítor Bento, viveram num modelo político em que foram criando direitos, alargando o Estado, e em que os seus políticos foram "vendendo promessas a crédito" e transferindo sempre as responsabilidades para o futuro. "Este modelo acabou, não é mais possível repeti-lo, porque jamais alguém nos empresta dinheiro", disse.
"Todos os políticos do atual regime cresceram vendendo promessas, que alguém depois pagaria, e isso acabou. Vamos ter que nos confrontar diariamente com as responsabilidades que temos", sublinhou ainda.
"Fomos a família que foi ao dinheiro dos filhos e chegámos ao fim da linha, em que já não temos dinheiro nem o mealheiro dos filhos o tem", disse.
