O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considera que a proposta de Cavaco Silva de definir o Serviço Nacional de Saúde "em conformidade com os rendimentos" é "uma indecência".
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Durante a cerimónia de inauguração do Hospital da Misericórdia de Loulé, na passada sexta-feira, o presidente da República defendeu que o Estado deve delegar noutras organizações, como as misericórdias, a prestação de serviços de saúde quando não tenha capacidade de assegurar com qualidade e eficácia e que os cidadãos com mais rendimentos devem contribuir mais.
Este domingo, durante a festa de Verão do PCP em Santiago do Cacém, Jerónimo de Sousa afirmou que tal "viola a Constituição da República [Portuguesa]", por ir "contra" o "princípio universal, geral e tendencialmente gratuito" da Saúde aí consagrado.
"Ouvir o presidente da República tomar uma posição contra a Constituição, que jurou cumprir e fazer cumprir é, no mínimo, uma indecência", sustentou.
"Problema" é a "especulação"
O secretário-geral do PCP criticou igualmente as declarações proferidas no por Cavaco Silva, no sábado, relativamente à Moody's, que, recentemente, classificou a economia portuguesa como "lixo", recomendando "um pouco mais de estudo" aos que "sofrem de ignorância na análise". Na sua opinião, o que interessa "não é matar o mensageiro", situando o "problema" na "especulação".
"Se esta União Europeia quisesse, acabava em três tempos com esses especuladores", defendeu, acrescentando que as afirmações dos responsáveis representam "um choro lamentável, como se fossem uma espécie de donzelas humilhadas e ofendidas".
Não "deixar pedra sobre pedra"
Jerónimo de Sousa não deixou de reiterar as suas críticas ao programa do Governo, orientado para "seguir à risca aquilo que a troika estrangeira já tinha decidido com a cumplicidade do PS", e o imposto extraordinário sobre o subsídio de Natal, uma medida que diz "atingir os mesmos de sempre".
A política de privatizações também não escapou ao discurso do dirigente comunista, que a classificou como uma "subversão total", acusando o actual Governo de não querer "deixar pedra sobre pedra".