A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima tem a funcionar, desde 2005, uma unidade específica para atendimento de vítimas de tráfico.
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Carla Amaral, a gestora, diz que a maioria das pessoas que ali chega é vítima de tráfico para exploração sexual. São mulheres, a maioria brasileiras. Geralmente são encaminhadas pela PJ e SEF, sobretudo. Numa única situação, a vítima conseguiu fugir e pedir socorro. "A prisão é sobretudo psicológica", conta ao JN, a jurista. "Dizem-lhes que conhecem bem os familiares e que os matarão se fugirem; ou, então, tiram-lhes os documentos e dizem-lhes que se fugirem serão presas pela polícia".
Esta mulher não quis saber de ameaças e numa viagem a caminho da casa de alterne disse que precisava de ir à casa-de-banho e fugiu. Num outro caso, uma mulher de 46 anos foi largada na rua, depois de ter sido explorada sexualmente, numa primeira fase, e laboralmente, no final. Quando já não servia para nada, largaram-na na rua. Perdida, deu de caras com um cartaz do Alto Comissariado para os Imigrantes e Minorias Étnicas (ACIME). Dirigiu-se lá e foi encaminhada para a APAV, onde chegou "completamente transtornada do ponto de vista psicológico".
À associação chegam também muitos casos de exploração laboral. Pessoas a quem é sempre atribuído o turno da noite, que trabalham mais horas do que as outras e a quem é pago um salário inferior.
Na APAV, as vítimas de exploração sexual ou laboral são informadas dos seus direitos e acompanhadas psicológicamente. Há casas abrigo para onde são levadas e é-lhes dado um período de reflexão durante o qual ponderam se pretendem denunciar, regressar ao país de origem ou permanecer em Portugal.
A revisão penal de 2007 introduziu melhorias na lei a este nível. Têm direito a protecção, se optarem por fazer queixa, e a vistos de residência, se quiserem ficar.
A maioria não deseja regressar, porque nos países de origem serão desprezadas e consideradas prostitutas, mesmo que garantam terem sido forçadas a isso.