Ana Jorge disse que tem "muita dificuldade em aceitar" que possa ter havido crime no caso dos doentes que ficaram cegos após uma intervenção oftalmológica no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
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"Não tenho palavras para qualificar esse acto" eventualmente criminal, admitiu Ana Jorge, durante uma visita ao Hospital de Portalegre, frisando que tem "mesmo muita dificuldade em aceitar" que possa ter ocorrido um crime, "pondo em risco a vida de seis pessoas" e provocando-lhes "lesões irreversíveis".
"É algo que é incompreensível do ponto de vista humano. Nada justifica uma situação dessas. Isso é muito, muito lamentável", disse Ana Jorge aos jornalistas.
A responsável pela pasta da Saúde realçou, porém, que o caso dos doentes do Hospital de Santa Maria tem sido objecto "de grande investigação" por parte da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) e da Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS).
"Obviamente que sempre que há qualquer suspeita, qualquer situação que não esteja completamente esclarecida, as autoridades em Portugal e o DIAP [Departamento de Investigação e Acção Penal] têm todo o interesse em esclarecer e em investigar", afirmou.
Portanto, salientou Ana Jorge, aguarda-se "que toda a investigação esteja completa" para se "saber exactamente o que aconteceu e tomar as medidas que forem de acordo com as conclusões dos inquéritos".
O Ministério Público, através do DIAP de Lisboa, abriu um inquérito-crime ao caso dos doentes do Santa Maria, "atendendo ao teor das notícias publicadas" em relação às ocorrências naquela unidade hospitalar, já que podem "estar em causa crimes de erro em intervenções e tratamentos médicos e/ou crimes de corrupção de substâncias médicas".
Segundo a Procuradoria-Geral da República, o processo, que foi distribuído à 6.ª secção do DIAP de Lisboa, visa o "apuramento de existência de crime, importando, em caso afirmativo, apurar quais são os seus autores ou responsáveis médicos".
Além da investigação determinada pelo DIAP, estão em curso outras duas investigações ao caso: uma da responsabilidade do Infarmed, para avaliar em termos laboratoriais a utilização do medicamento (Avastin) que foi aplicado aos doentes; e outra da IGAS.