O mais provável é Governo cair por "contradições" da coligação, diz Jerónimo de Sousa
O secretário-geral do PCP tem a certeza de que o Governo cairá e considera que é mais provável que isso aconteça por "contradições" da coligação PSD/CDS do que por intervenção do Presidente, defendendo sempre a realização de eleições.
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"Não sei se demora muito se demora pouco [a cair] mas o que sei é que é um Governo do passado, sem saída, que já não é capaz de continuar a mentir aos portugueses. E se for um obstáculo à criação da política alternativa e da alternativa política, obviamente deve ser demitido. (...) E se for demitido, acho que nenhum democrata deve ter receio de que seja dada a palavra ao povo", disse Jerónimo de Sousa, em entrevista à agência Lusa, na véspera do XIX Congresso comunista, que o reelegerá secretário-geral.
Esclarecendo que fala "obviamente em eleições", acrescentou: "Não vemos como é que um Governo de iniciativa presidencial prestaria contas e governaria em função da relação de forças na Assembleia da República. Haveria aqui uma contradição insanável. Sem fazer disso a bandeira, achamos que o Governo deve ser demitido mas como alternativa e solução democrática, para ter a confiança, é preciso dar a palavra ao povo português".
Jerónimo de Sousa não avançou com um prazo para a queda do Governo, insistindo apenas em que "está condenado" e "não tem futuro" depois de já ser evidente que, ao contrário das promessas do Executivo, a situação económica e financeira do país não melhora nem existe perspetiva de que isso venha a acontecer.
"Ou seja, tudo aquilo que anunciou para levar à ideia das inevitabilidades e da aceitação dos sacrifícios caiu por terra. É um Governo sem saída. Cairá por contradições no seio da coligação? Cairá por exigência institucional do Presidente da República? Eu aqui tenho mais dúvidas", acrescentou.
Questionado sobre a estratégia para as autárquicas do próximo ano, afirmou que "as boas experiência devem manter-se", pelo que coligações só no âmbito da CDU.
"A nossa proposta é que a CDU se mantenha e se reforce. A nossa coligação é a CDU", respondeu, rejeitando alianças com o Bloco de Esquerda: "É um problema que o Bloco tem, não transformem isso num problema do PCP, que não existe".
Nesta entrevista, Jerónimo de Sousa insistiu na proposta comunista de renegociação imediata da divida e no rompimento com a 'troika'.
Esse rompimento, explicou, seria progressivo, com vista a honrar os compromissos, a assegurar o pagamento da "dívida legítima" e a libertar verbas, através da limitação dos juros anuais, para investir na economia.
Jerónimo de Sousa desvalorizou a possibilidade de esse rompimento e de essa renegociação deixar o Estado sem recursos para, no imediato, por exemplo, pagar salários, afirmando que o dinheiro até agora recebido no âmbito da ajuda externa foi "fundamentalmente" destinado à banca e a pagar os juros do próprio empréstimo internacional.
"Se o país não criar mais riqueza, se não criar mais emprego, como é que fazemos? E a nossa proposta vem nesse sentido porque, ainda por cima, Portugal tem amplos recursos", afirmou, dando como exemplo que "só no subsolo", o país tem "riqueza igual a dois PIB".
Questionado sobre como é que Portugal poderia explorar essas potencialidades sem a 'troika' ou fundos europeus, respondeu: "Tínhamos possibilidades, designadamente em termos de instituições residentes que têm grandes investimentos em certas áreas, em fundos de pensões internacionais. E com uma política de aforro atrativa para os portugueses por parte do Estado também se podiam disponibilizar verbas significativas".
"Vemos isto como um processo que devia ser encetado em vez de se ficar apenas nesta posição da inevitabilidade, da destruição da caminhada para o desastre como estamos a fazer. Esta é uma posição clara de que há uma alternativa. Que não é fácil, mas é a alternativa que pode impedir essa caminhada para o desastre", acrescentou.