O primeiro-ministro perdeu o seu "braço-direito" Miguel Relvas, envolvido em várias polémicas no desempenho das funções governativas desde que o executivo tomou posse, em junho de 2011.
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O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, aceitou o pedido de demissão apresentado pelo ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas.
"O Gabinete do primeiro-ministro informa que o ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, apresentou ao primeiro-ministro o seu pedido de demissão, que foi aceite. Em face desta situação, o primeiro-ministro proporá oportunamente ao presidente da República a exoneração do ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares e a nomeação do seu substituto", lê-se numa nota à comunicação social.
Relvas protagonizou ao longo dos 22 meses em funções diversos 'casos', como a licenciatura obtida num ano - que levou à demissão do fundador da Universidade Lusófona e responsável pelas equivalências, Fernando Santos Neves, e ao inquérito da Inspeção Geral da Educação, ainda não divulgado - além das alegadas ligações ao antigo diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), Jorge Silva Carvalho, e das alegadas pressões junto de jornalistas.
Passos Coelho chegou também a ver-se associado a uma polémica que envolvia Relvas, quando o jornal "Público" noticiou que a empresa Tecnoforma, então gerida pelo atual líder do PSD, teria beneficiado de financiamento em 2004 num projeto do programa Foral para formar centenas de funcionários municipais para funções em aeródromos aparentemente inexistentes.
O programa Foral era tutelado por Miguel Relvas, então secretário de Estado da Administração Local, noutro Governo de coligação PSD/CDS-PP, liderado pelo atual presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso.
Na agenda do ministro esteve ainda o adiado projeto de privatizar os canais públicos de televisão e de rádio, tendo a extinção ou junção de mais de mil freguesias sido a mais significativa ação política concretizada pelo até agora ministro, embora com muitos protestos.
O ex-ministro Miguel Relvas tornou-se figura central nos protestos contra o Governo e motivou uma série de manifestações autónomas a pedir a sua demissão, tendo sido um dos membros do executivo brindado com a "Grândola Vila Morena", chegando a ser impedido de discursar numa cerimónia numa Universidade.
Relvas sempre disse estar de consciência "completamente tranquila" em relação à sua licenciatura -- na qual obteve 32 equivalências e só fez exame a quatro disciplinas da licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais.
O cartaz de protesto "Vai estudar, Relvas!" multiplicou-se e atravessou fronteiras, chegando a ser empunhado por um emigrante português numa das etapas da maior corrida velocipédica do mundo, o "Tour de France".
Para trás ficou também o "caso das secretas" e das alegadas ligações a Silva Carvalho, entretanto contratado pelo grupo Ongoing, e que terá sugerido a Relvas alterações nas estruturas dos Serviços de Informações ainda antes das eleições que deram a maioria absoluta à coligação PSD/CDS-PP. Devido a esse caso das secretas, um jornalista foi colocado sob escuta para averiguar as suas fontes.
A passagem no Governo de Miguel Relvas fica ainda associada ao fim da crónica de um jornalista na rádio pública e à saída voluntária de uma outra jornalista do "Público", que se disse pressionada pelo ministro.
Com 51 anos, a carreira política de Relvas começou na adolescência, na JSD e nos bastidores do aparelho partidário "laranja", assim como a relação de quase 30 anos com Passos Coelho.
Miguel Fernando Cassola de Miranda Relvas nasceu em Lisboa em 5 de setembro de 1961, viveu com os pais em Angola e regressou a Portugal, onde estudou, juntamente com os irmãos, em Tomar.
A inscrição na JSD em 1981 foi acelerada pela admiração por Sá Carneiro e o choque com a morte do então primeiro-ministro.
Como "jotinha", Relvas rapidamente se tornou próximo de Carlos Coelho, Pedro Pinto e Passos Coelho, um núcleo duro que várias vezes se demarcou do "status quo" durante o "Cavaquismo".
Passos Coelho presidiu à JSD entre 1990 e 1995, após ser secretário-geral e "vice" entre 1984 e 1990. Miguel Relvas foi secretário-geral da JSD entre 1987 e 1989 e "vice" entre 1990 e 1992, ao mesmo tempo que se tornava presidente da Assembleia Municipal de Tomar e experimentava o primeiro de 25 anos como deputado na Assembleia da República, por Santarém.
Depois da passagem pelo Governo de Durão Barroso como secretário de Estado da Administração Local, Relvas fez uma pausa na atividade política, à qual regressou em pleno com a liderança de Pedro Passos Coelho, em 2010.