O coordenador regional do PCP-M, Edgar Silva, diz que "nem com sais de fruta" o presidente do Governo Regional e do PSD-M, Alberto João Jardim, há 33 anos no poder, consegue "digerir" o 25 de Abril.
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Para Edgar Silva, só a "hostilização ao 25 de Abril" por parte do líder do PSD-M explica que não haja na Madeira qualquer iniciativa oficial comemorativa da Revolução dos Cravos, que hoje celebra o seu 37.º aniversário.
Edgar Silva considera, em declarações à Lusa, que o Governo Regional da Madeira e o PSD-M em particular conviveram "sempre com muita dificuldade" com o 25 de Abril.
"Tirando uma ou outra excepção, a verdade é que o PSD-M viveu sempre com uma relação conflitual com o 25 de Abril", reforçou, reconhecendo, no entanto, não ser esse o sentimento generalizado no seio das bases, nem no conjunto dos quadros do partido.
"Mas há uma cúpula de dirigentes do PSD que convive com muita dificuldade com o 25 de Abril, talvez porque tenham raízes muito profundas ao antigo regime e tenham ainda muita dificuldade em reconhecer que a própria autonomia é filha directa da democracia nascida com Abril".
O coordenador regional do PCP-M recorda que o partido propôs à Assembleia Legislativa a realização de uma sessão solene comemorativa do 37.º aniversário da Revolução dos Cravos mas a pretensão foi chumbada pela maioria dos deputados do PSD-M.
O dirigente comunista sublinha que não há comemorações institucionais e ao nível das estruturas locais do PSD-M, que governa o arquipélago desde 1976: "Talvez seja o único partido que, na Região Autónoma da Madeira, não promove um iniciativa evocativa do 25 de Abril, esta tem sido a regra".
Para Edgar Silva, "isto resulta de um quadro de hostilização ao 25 de Abril".
"Até parece contraditório e um pouco incongruente" porque "a autonomia, conquista directa de Abril, todo o processo democrático que resulta da aprovação da Constituição que agora comemora 35 anos, são grandes conquistas do povo português e, curiosamente, no PSD-M, devido a estas raízes mais profundas com o antigo regime, há uma tendência a hostilizar Abril. É lamentável", reitera.
"A verdade é que boa parte dos dirigentes [do PSD-M], e particularmente o dr. Alberto João Jardim, tiveram sempre uma relação de grande dificuldade com uma democracia avançada. Nem engolindo sais de fruta [o presidente do Governo Regional] consegue aceitar alguns aspectos da vivência democrática. Essa é a questão de fundo", sustenta.
Apesar desta "hostilização" do 25 de Abril pelo PSD-M, Edgar Silva considera que a Revolução dos Cravos está "profundamente arreigada junto das populações e do povo e não é um cidadão, não é um governante, não é um mandante que faz apagar Abril".
"Nós, há vários anos, no âmbito da CDU, comemoramos o 25 de Abril na rua, com o povo, e há uma receptividade muito grande, é uma grande festa popular, e, mesmo sendo uma iniciativa partidária, para ela convergem pessoas das mais variadas áreas políticas para celebrar a festa da liberdade, a a festa da democracia", afirmou.
Os comunistas madeirenses celebram hoje o 25 de Abril ao longo da Rua da Carreira, no Funchal, onde se localiza a sede do partido, com barraquinhas de 'comes e bebes' e intervenções políticas.