No dia 16 de maio, ao pronunciar-se sobre os novos impostos em perspetiva, Paulo Portas anunciou em definitivo que poderia entrar em rutura com o Governo ao referir ser "politicamente incompatível" com "essa TSU dos pensionistas".
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"Sou politicamente incompatível com essa TSU dos pensionistas, por razões de justiça social, por razões de impacto económico e até por razões de prudência jurídica", referiu na ocasião o então ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros durante o jantar anual da Câmara do Comércio Luso-Alemã, em Lisboa.
O prosseguimento das políticas de austeridade, exigidas pelos negociadores internacionais e que terá continuidade com a nova ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, terá sido o motivo invocado pelo líder do CDS/PP para abandonar o Executivo, que durante o seu consulado se destacou por um absoluto pragmatismo que implicou o primado de economia face à política no mundo das relações diplomáticas.
No entanto, a rutura há muito que estava anunciada e foi confirmada na apresentação da sua moção ao Congresso do seu partido, em princípio agendado para o próximo fim-de-semana, e quando o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho continuava a insistir na impossibilidade de descida de impostos para não comprometer o "programa de ajustamento".
Paulo Portas voltou ao Governo após as legislativas de 5 de julho de 2011 após obter um bom resultado (11,7% e mais de 650 mil votos), com a eleição de 24 deputados.
O reforço do peso do CDS-PP permitiu-lhe aliar-se ao PSD e cumprir a ambição de exercer a "habilidade diplomática" que lhe apontam colaboradores próximos, numa pasta que tinha sido recusada ao seu partido em 2002, os Negócios Estrangeiros.
A diplomacia económica passou a ser o vetor determinante da atividade do ministério.
Durante os dois anos em que se manteve à frente do MNE, Paulo Portas transformou as embaixadas em "centros de negócios", no âmbito da sua estratégia de diplomacia económica que privilegiava as exportações, a promoção do turismo em Portugal, ou a captação de investimentos.
Já em 2002, segundo disse na ocasião à Lusa um dirigente centrista que acompanhou na altura o processo de formação do Governo de coligação, o CDS-PP "tinha manifestado disponibilidade" para assumir as pastas dos "Negócios Estrangeiros, Administração Interna, Emprego e Segurança Social".
No entanto, acabou por ficar no XV Governo, liderado por Durão Barroso, com a Justiça (Celeste Cardona), Estado e Defesa Nacional (Paulo Portas) e Segurança Social e Trabalho (António Bagão Félix, independente). No Governo seguinte, com Pedro Santana Lopes, Paulo Portas manteve o ministério do Estado e da Defesa Nacional e foi-lhe acrescentada a tutela dos Assuntos do Mar.
Fluente em quatro línguas estrangeiras -- francês, inglês, espanhol e italiano -- Paulo Sacadura Cabral Portas, 50 anos, assumiu finalmente a pasta dos Negócios Estrangeiros, sendo também ministro de Estado do XIX Governo Constitucional.
Foi sob a liderança de Paulo Portas, destacou fonte democrata-cristã, que o CDS-PP conseguiu ser readmitido no grupo parlamentar do PPE (Partido Popular Europeu) -- a mesma família europeia a que pertence o PSD -- da qual tinha sido expulso em 1992, durante a liderança de Manuel Monteiro devido às posições assumidamente anti-europeístas.
O regresso ao PPE, ainda que restrito ao grupo parlamentar, deu-se em 2004, um "primeiro passo" para a plena integração naquela família política, que só ocorreu em 2009.
Paulo Portas aderiu ao CDS-PP em 1995, depois de ter sido um dos principais conselheiros do antigo presidente do partido Manuel Monteiro, que viria a substituir no congresso de Braga, em 1998.
Liderou o partido durante sete anos, levando o CDS-PP ao poder em 2002 e demitiu-se em 2005, na sequência das legislativas de fevereiro desse ano, nas quais o partido obteve 7,3 por cento dos votos, quando pedira 10 por cento na campanha eleitoral.
Dois anos depois, com Ribeiro e Castro à frente do CDS-PP, Portas anunciou a intenção de regressar à liderança e, depois de quase dois meses de polémicas jurídicas internas, conseguiu ver aprovado o método de eleições diretas para a disputa interna.
O processo sobre a compra de dois submarinos pelo Governo de Durão Barroso e Paulo Portas ainda "persegue" politicamente o líder do CDS-PP.
Irmão do eurodeputado do BE Miguel Portas, que morreu em abril de 2012, Paulo Portas estudou no colégio São João de Brito, Lisboa, e licenciou-se em Direito pela Universidade Católica.
Acabou por tornar-se jornalista -- uma das opções que lhe apontaram os testes psicotécnicos, além de advogado, político e padre. Católico praticante e amante de cinema, Portas começa na política na JSD, da qual se afasta com a morte de Francisco Sá Carneiro. Funda o semanário "O Independente", o qual dirige até regressar a uma das suas outras paixões: a política.