O ministro dos Negócios Estrangeiros disse, esta quinta-feira, em Bruxelas, que Portugal poderá dar apenas "algum contributo" na missão europeia da formação do exército do Mali, sublinhando que, por uma questão de coerência na contenção orçamental, seria "incompreensível" ir mais além.
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"Portugal tem problemas orçamentais, que estamos a ultrapassar passo a passo, mas que implicam restrições em todos os setores, e não seria por isso compreensível nem expectável um empenhamento de Portugal muito significativo ou em operações de combate", afirmou Paulo Portas .
O ministro falava no final de uma reunião extraordinária dos chefes de diplomacia da União Europeia, na qual foi aprovado o envio acelerado de uma missão militar para treinar o exército do Mali, composta por 450 efetivos, incluindo 200 instrutores.
Expressando o seu apoio à posição adotada pela França, de avançar para o terreno, o ministro reforçou que, dada a atual situação orçamental em Portugal, é necessário "manter a coerência e a disciplina dos passos" que estão a ser dados para ultrapassar a situação económica difícil, ou seja, "não pode haver restrições nuns setores e depois noutros haver empenhamentos exagerados", pelo que Portugal não poderia decidir um "envolvimento militar no exterior a mais do que estava previsto".
No entanto, sublinhou, e "como parceiro europeu", Portugal está disponível para, no plano da missão europeia hoje decidida -- e "sem participar nas operações de combate", insistiu -, dar "algum contributo", até porque os portugueses têm "reputação e conhecimento, seja na matéria, seja no continente africano".
Questionado sobre os moldes que esse contributo pode vir a ter, Paulo Portas lembrou que "é preciso respeitar as normas constitucionais e prerrogativas dos vários órgãos de soberania" antes de ser tomada uma decisão, mas adiantou que será sempre uma pequena "parcela" no quadro de 200 instrutores previstos..
"Estamos a falar de um número reduzido de elementos, certamente, mas agora é preciso seguir os procedimentos constitucionais e institucionais que estão previstos para estas matérias em Portugal", disse.
O ministro comentou ainda que houve um "sentimento francamente consensual no Conselho" de "compreensão e valorização pela atitude que a França foi obrigada a tomar, desde logo porque a França estava respaldada por resoluções das Nações Unidas, porque houve um pedido expresso das autoridades de Bamako, e porque havia uma deterioração da situação no terreno que podia conduzir a que grupos terroristas tomassem a capital do país em relativamente pouco tempo, o que transformaria o Mali num Estado dominado ou governado por grupos terroristas".
"Se tomarmos consciência de que o Mali e a região do Sahel não estão assim tão longe da Europa, pelo contrário, é compreensível por que é que a França sentiu a obrigação" de travar o avanço dos rebeldes islamitas, apontou.