PS pede ao Governo que ouça o que diz Manuela Ferreira Leite sobre a austeridade
O PS apelou, esta quarta-feira, ao Governo para que ouça a ex-presidente social-democrata Manuela Ferreira Leite e suavize a austeridade, enquanto o PSD sustentou que a avaliação positiva de Portugal é essencial para escapar à turbulência grega.
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Estas foram as linhas de um debate em plenário sobre a situação económica portuguesa, no qual PS e maioria PSD/CDS voltaram a apresentar análises muito divergentes e em que o deputado socialista Fernando Medina se socorreu da tese da ex-ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite no sentido de haver uma suavização das medidas de austeridade decretadas pela 'troika' (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia).
"Ouça as vozes dentro do vosso partido. Manuela Ferreira Leite não é uma perigosa socialista", observou Fernando Medina, que foi secretário de Estado dos governos de José Sócrates.
Na sua intervenção, Fernando Medina lamentou que o atual Governo encare o aumento do desemprego como "uma consequência inevitável e estrutural".
"Essa é uma visão política inaceitável, porque o desemprego não é um dano colateral do processo de ajustamento da economia, mas é a questão central da nossa economia", disse, antes de se referir a alguns dos resultados da recente quarta avaliação da 'troika' sobre o cumprimento do Programa de Assistência Económico e Financeiro.
"Para 2013, o próprio Governo prevê agora uma redução do crescimento económico para um terço (de 0,6% para 0,2%), mais três pontos percentuais na dívida pública, atingindo os 118% (mais cinco mil milhões de euros), e um aumento significativo do desemprego. Perante estas previsões, como é possível concluir que estamos no caminho certo?", questionou Fernando Medina.
Na resposta, o deputado do PSD Pedro Pinto afirmou que há diferenças na linguagem do PS sobre a situação económica entre o Largo do Rato e a Assembleia da República.
"O senhor deputado [Fernando Medina] não disse que estava chocado [como afirmara o dirigente socialista Eurico Dias] - e não está chocado porque o senhor deputado, enquanto membro dos anteriores governos foi responsável pela assinatura do memorando da 'troika'", disse, recebendo palmas das bancadas da maioria.
Pedro Pinto contrapôs em seguida que "chocante" é o PS se afirmar "chocado por este Governo estar a cumprir o memorando assinado pelo anterior Governo" e deixou uma questão à bancada socialista: "Qual teria sido o efeito se a avaliação da 'troika' a Portugal fosse negativa, numa conjuntura de incerteza com a Grécia?".
"O que estaria agora a acontecer em Portugal?", reforçou Pedro Pinto, dirigindo-se a Fernando Medina.
Na mesma linha, o deputado do CDS-PP Adolfo Mesquita Nunes observou que, ao longo dos seis anos em que Fernando Medina esteve no Governo, "nunca falou em fracassos e só falou em hipotéticos sucessos, mesmo com o Produto Interno Bruto a cair, a dívida pública e aumentar e o desemprego e subir constantemente".
"Se as vossas receitas não resultaram numa conjuntura internacional favorável, por que razão iriam agora funcionar em conjuntura de crise?", perguntou Adolfo Mesquita Nunes.
Pela parte do PCP, o deputado Miguel Tiago referiu que o PS "escolheu sempre como parceiros o PSD e a 'troika'" e que o "povo português penalizou o PS" por causa dessas mesmas escolhas.
Já o deputado do Bloco de Esquerda Pedro Filipe Soares sustentou que, ao fim de um ano, o atual Governo "já destruiu cerca de 200 mil empregos", numa altura em que "um em cada três jovens está sem trabalho".