A economista Manuela Arcanjo afirmou, esta terça-feira, que a redução do número de escalões de IRS, anunciada pelo Governo, vai traduzir-se "num aumento significativo da carga fiscal", defendendo que as novas medidas vão ter um efeito recessivo.
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"Quando se refere uma redução significativa dos escalões, por muito que tentem explicar, vai traduzir-se naturalmente num aumento significativo da carga fiscal", disse à Lusa a antiga secretária de Estado do Orçamento.
A ex-governante socialista considerou que "quando se fala numa redução muito significativa eventualmente será para passar [de oito escalões] para quatro ou cinco, o que significa naturalmente um aumento da carga fiscal, no mesmo ano para que já estavam previstas limitações à dedução à coleta".
O Governo anunciou hoje que vai reduzir de forma significativa o número de escalões de IRS já no próximo ano, mantendo-se a taxa mais elevada de 46,5%, a que acresce a sobretaxa extraordinária de solidariedade de 2,5 pontos percentuais acima do valor que excede o escalão.
Manuela Arcanjo acusou o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, de "não explicar qual a verdadeira situação do défice para 2012".
Não estamos na posse de toda a informação. É preciso de saber qual é o défice real neste ano e não soubemos qual é", acrescentou.
Para a ex-governante, na conferência de imprensa sobre a 5ª. avaliação do programa de ajustamento, Vítor Gaspar explicou "o fracasso do programa, a que chamou sucesso, em nome do efeito da quebra da procura interna sobre as receitas fiscais e esqueceu-se de referir que este conjunto de medidas vai ter o mesmo efeito recessivo".
"Houve uma referência vaga às parcerias público-privadas e às fundações, mas vagas e tardias. Com o estudo que foi feito não acredito que haja uma limpeza das fundações", criticou.
Manuela Arcanjo realçou ainda a tentativa do ministro das Finanças para "explicar sem grande sucesso a medida da desvalorização fiscal e do aumento da taxa social única (TSU), evocando novos estudos empíricos que demonstrarão a vantagem desta medida na criação de emprego, o que contraria todos os estudos conhecidos".
Neste contexto, a economista, que disse "estar a digerir as quatro páginas de apontamentos" que tirou sobre as novas medidas anunciadas hoje pelo Governo, os partidos políticos na oposição, em especial o PS, os parceiros sociais e o próprio Presidente da República têm que "ter uma intervenção de cidadania para se perceber que isto é um ciclo vicioso".
"Os portugueses estão uns indignados e outros chocados só com a intervenção do primeiro-ministro na semana passada, fora este agravamento",declarou.