Os resultados eleitorais em Portugal demonstram que funcionou o "golpe dos mercados" que provoca que as políticas de cortes para enfrentar a crise deem "todos os benefícios à Direita", afirmou um líder da Esquerda Unida espanhola. O PS de Espanha diz que a Esquerda europeia está a pagar os custos das "assimetrias" causadas pela crise.
Corpo do artigo
A Imprensa norte-americana considera que "os credores internacionais" gostaram do "mandato forte" do centro-direita que saiu das legislativas de domingo. Na Europa, a comunicação social destaca que Sócrates "foi varrido" na vitória da Direita. Triunfo visto com preocupação pela Esquerda do país vizinho.
Gaspar Llamazares, porta-voz da IU no Congresso de Deputados, afirmou que a pressão dos mercados conseguiu que a resposta à crise passe pelos cortes sociais, "inclusive por parte de governos progressistas", que depois sofrem derrotas eleitorais.
Quem lucra, insistiu, é a direita económica, que "obtém os rendimentos de uma saída da crise pouco solidária", e a direita política, que "obtém os votos e fortalecerá ainda mais esses cortes".
Por isso, Llamazares recomendou aos socialistas espanhóis (PSOE) que "aprendam com os seus companheiros em Portugal", avançando "numa viragem à esquerda". Senão, afirmou, "o PSOE fará os cortes e o PP receberá os votos".
Juan Fernando Lopez Aguilar, eurodeputado PSOE, considera que, a direita está a "demonstrar um enorme apetite de poder e de mobilização", enquanto a esquerda e os "sectores progressistas" expressam "o seu descontentamento com a situação, recusando a política e os políticos" e "fragmentando o seu voto com altos níveis de abstenção".
"Esta altíssima abstenção, mais de 40%, é boa parte da explicação do resultado. Como causa da deserção das urnas e da desmobilização de amplos sectores progressistas que perdem confiança na capacidade dos governos de enfrentar este assalto para enfrentar a crise e o assalto especulativo", afirmou.
"Como europeus, devemos expressar a maior preocupação porque se estejam a impor a países membros da UE restrições insuportáveis à autonomia da política e condições de impossível cumprimento", disse.
Depois dos resultados em Portugal - e dos que se verificaram nas eleições noutros países - Aguilar considera que a esquerda "deve tomar muito a sério o "impacto sobre os valores progressistas desta onda anti-política e anti-europeia que sacode a Europa".
Para isso deve "unir esforços, quando tem margem de manobra decrescente" coordenando-se a nível europeu "quanto antes".
"O impacto político desta sequência está a ser o da perda de apoio dos governos progressistas como demonstra que um dos últimos governos socialistas na Europa, o Governo português, acaba de ser derrubado", disse.
"A esquerda deve reagir e não apenas a nível nacional. Deve reflectir e agir em comum, porque os eleitores progressistas europeus não decrescem nem diminuem, mas estão desmobilizados", considerou.
Manifestando "respeito pelo pronunciamento das urnas em Portugal", Lopez Aguilar quis expressar "solidariedade com o esforço épico dos socialistas portugueses que enfrentaram, no Governo e ao longo do debate eleitoral, a pior crise que conheceu a UE desde a sua fundação".
Deixando uma "mensagem de alento aos companheiros socialistas portugueses", Lopez de Aguilar considerou que a crise da dívida na zona euro "demonstrou muitas assimetrias e desequilíbrios", acabando por ter um grande "impacto político".