Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto, reclamou, esta sexta-feira de manhã, a criação de círculos eleitorais regionais, onde o cidadão possa exercer um duplo voto: no partido e no deputado que quer ver eleito.
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Num dos debates da conferência "Portugal com Norte", a propósito dos 20 anos de emissões da TSF no Porto, Rui Moreira apelou à urgência de se alterar o modelo de representação política, nomeadamente dos deputados à Assembleia da República.
A sua proposta, no âmbito de uma próxima revisão constitucional, passa por "acabar com os círculos distritais", explicou no debate moderado por Jorge Fiel, subdirector do Jornal de Notícias, que promoveu, juntamente com a TSF, a conferência que decorre hoje na Casa de Serralves.
"Devia haver círculos regionais no continente, como há nos Açores e na Madeira. E o eleitor, quando for votar, escolhe não só o partido, mas também o deputado que gostaria de ver eleito", explicou o presidente da Associação Comercial do Porto, no painel em que participou, também, D. Manuel Clemente. Em suma, o círculo passaria a ser maior e haveria um duplo voto que, a seu ver, iria potenciar a proximidade entre eleitos e eleitores.
"Isso iria obrigar os candidatos a fazer o seu trabalho de casa". E os deputados "a vir à terra ao fim-de-semana", argumenta. Além disso, o voto duplo "inverte a lógica dos directórios partidários", que são soberanos na escolha dos candidatos que vão efectivamente para o Parlamento.
Pelo contrário, disse ser contra a criação de círculos uninominais, considerando que tal iria "criar distorções políticas" e deputados "de segunda".
Rui Moreira garante que o modelo que propõe não colocaria em causa os pequenos partidos, cujos votos, recorda, são hoje muitas vezes perdidos. Pelo contrário, alega que "ficariam mais salvaguardados" e teriam a ganhar com o novo sistema que defende.
Por sua vez, D. Manuel Clemente diz ser necessário ir buscar ao modelo inglês a maior proximidade entre cidadãos e políticos. E concorda com Rui Moreira na ideia de que é necessário dar condições ao eleitor para que escolha não apenas o partido, mas também o seu deputado preferido. Embora favorável a uma "dupla vinculação" dos eleitos, nacional e local, e ao duplo voto por parte do eleitor, não especifica o sistema eleitoral que defende.
No debate, o bispo do Porto alertou, ainda, que "o Estado só emagrece com a cidadania activa e participativa".
Quando chegou a hora de debater o futuro da Agricultura, Rui Moreira defendeu que "é preciso que as pessoas não tenham vergonha de trabalhar" neste sector e que "os jovens percebam que é preciso meter as mãos na terra". Isto quando, na Agricultura, a média de idades é muito avançada, recordou.
Ambos os oradores concordam, entretanto, na ideia de que há várias lideranças no Norte mas que isso não basta. D. Manuel Clemente nota que "uma sociedade não vive" apenas das lideranças que, em determinado momento, assumem protagonismo. Para Rui Moreira, falta capacidade de organização no plano regional.