Joaquim Pais Jorge apresentou, esta quarta-feira, o seu pedido de demissão do cargo de secretário de Estado do Tesouro à ministra de Estado e das Finanças.
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O anúncio da demissão do secretário de Estado surge após a polémica em torno da negociação de contratos "sawp".
"Aceitei o convite que me foi dirigido pela senhora ministra de Estado e das Finanças no passado dia 1 de julho com muito orgulho. A situação que o país atravessa é dificílima e senti uma enorme honra em poder ajudar. Sabia desde o primeiro momento que as dificuldades seriam imensas", refere Joaquim Pais Jorge no comunicado divulgado, esta quarta-feira, em que apresenta a demissão.
"As notícias vindas a público nos últimos dias, em que uma apresentação com mais de oito anos foi falseada para que incluísse o meu nome, revelam um nível de atuação política que considero intolerável. A minha disponibilidade para servir o país sempre foi total. Não tenho, no entanto, grande tolerância para a baixeza que foi evidenciada", acrescenta o texto.
"Considero que não tenho que me sujeitar a este tipo de tratamento mediático de que fui alvo nos últimos dias. Foram exploradas e distorcidas declarações que fiz sempre de boa-fé. É este lado podre da política, de que os Portugueses tantas vezes se queixam, que expulsa aqueles que querem colocar o seu saber e a sua experiência ao serviço do país", salienta ainda Joaquim Pais Jorge.
"Tomei esta difícil decisão porque nunca permitirei que controvérsias criadas sobre o meu percurso profissional, que não escondi, possam ser usadas como arma de arremesso político contra o Governo", justifica o secretário de Estado demissionário.
O Ministério das Finanças adiantou, num comunicado, na terça-feira à noite, que há dois documentos diferentes, relativamente às propostas de contratos "swap" do Citigroup ao Governo de José Sócrates em 2005, e que no documento original não consta o nome do secretário de Estado do Tesouro, Joaquim Pais Jorge. De acordo com o comunicado das Finanças, "o documento que chegou às mãos dos jornalistas não tem qualquer referência cronológica, nem números de páginas", ao contrário do documento original e verdadeiro que data de 1 de julho de 2005.
Para o Ministério, "estas discrepâncias serviram para introduzir, como segunda página do documento na posse da comunicação social, um organigrama inverosímil, que não consta da apresentação original, com o logótipo do banco com um grafismo diferente. É neste organigrama, e apenas nele, que aparece o nome do secretário de Estado do Tesouro".
A revista "Visão" noticiou na quinta-feira que o Citigroup propôs em 2005 "swaps" a Portugal para baixar artificialmente o défice, estando o atual secretário de Estado do Tesouro e o dono da consultora StormHarbour entre os responsáveis pela proposta.
De acordo com um documento a que a Lusa também teve acesso, o banco norte-americano fez várias propostas ao instituto que gere a dívida pública portuguesa, o IGCP, de "swaps" que baixariam artificialmente o défice.
Na sexta-feira, o secretário de Estado do Tesouro, Joaquim Pais Jorge, recusou responsabilidades na tentativa de venda pelo Citigroup ao Estado de "swaps" para baixar artificialmente o défice, e disse não se lembrar se esteve na apresentação da proposta.
No entanto, Pais Jorge confirmou na segunda-feira à SIC, por escrito, ter reunido com o gabinete de José Sócrates, enquanto diretor do Citigroup.
Na terça-feira de manhã, o secretário de Estado adjunto do ministro-adjunto, Pedro Lomba, admitia a existência de "inconsistências problemáticas" que o Governo ia "averiguar" relativamente a documentos referentes ao envolvimento do secretário de Estado do Tesouro na tentativa de venda de "swap" ao Executivo anterior.