O secretário-geral do PS acusou, esta quinta-feira, o Governo de ter ofendido os portugueses ao elogiar o relatório do FMI com medidas para reduzir a despesa pública, defendendo uma reforma do Estado, mas não através de "cortes cegos".
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"Quando o Governo vem elogiar o relatório do FMI, acho que isso é uma ofensa aos portugueses porque aquilo que o Governo está a fazer é elogiar propostas que vêm destruir a coesão social" no país "e não há uma linha sobre o crescimento económico", criticou António José Seguro.
Segundo o líder do PS, é preciso "reformar o Estado, mas não se pode confundir a reforma do Estado com cortes cegos e cortes da natureza daqueles que são propostos no relatório do FMI".
"É necessário nós reformarmos o Estado, mas não é necessário nós cortamos naquilo que é essencial para as pessoas, que é na saúde, na educação e na segurança social dos portugueses", sublinhou.
António José Seguro falava aos jornalistas no concelho de Ferreira do Alentejo, no distrito de Beja, durante uma visita à herdade e ao lagar do Marmelo, da Sovena, uma das duas maiores empresas mundiais no setor do azeite.
O líder socialista aludia às declarações, feitas quarta-feira, pelo secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, que elogiou o relatório do FMI com medidas para reduzir a despesa pública.
"A importância deste relatório é que realmente é um relatório quantificado, muito bem feito, muito bem trabalhado, e que eu espero que seja lido por todos, pelos partidos políticos, pela sociedade civil em geral, porque ele é importante", afirmou Carlos Moedas.
Em causa está um relatório do FMI com propostas para o corte da despesa pública em quatro mil milhões de euros, que o Governo recebeu quarta-feira e divulgou na sua página na Internet, após este ter sido noticiado pelo Jornal de Negócios - segundo o executivo, numa versão preliminar.
Para o líder do PS, o Governo de coligação PSD/CDS "é hoje um Governo desorientado" e "um fator de instabilidade" em Portugal, tendo "dificuldades em apresentar propostas estratégicas" para desenvolvimento nacional.
"E aquilo que faz é socorrer-se deste estudo [do FMI] que aponta exclusivamente para cortes que, volto a dizer, são uma ofensa aos portugueses" e "não tem mandato nem legitimidade" para os executar.
O que o Governo devia ter feito, contrapôs o líder socialista, era "ele próprio elaborar estudos e propostas para negociar com o FMI e não pedir estudos ao FMI para agora impor aos portugueses, com esta imposição brutal e com as consequências sociais que todos nós conhecemos".
Passos Coelho "está hoje isolado do consenso nacional que existe" no país, ao qual o Presidente da República aludiu, argumentou Seguro.
Questionado pelos jornalistas sobre alegados divergências no seio do Governo em relação ao relatório do FMI, Seguro disse que, "neste momento, com essas notícias que vêm a público, com esses desentendimentos, o que se revela é que o Governo é hoje um fator de instabilidade".
"Ora, num momento de crise, em que se pedem tantos sacrifícios aos portugueses, o Governo devia ser precisamente o contrário: um fator de estabilidade, gerador de confiança, que desse sentido aos sacrifícios que exige aos portugueses".
E "isso não está a acontecer", acrescentou, frisando: "É por isso que o Governo está isolado e cada vez mais afastado dos portugueses".