O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que vai ser substituído por Maria Luís Albuquerque, tinha pedido para sair do cargo em outubro de 2012, após o acordão do Tribunal Constitucional, de acordo com a carta de demissão enviada ao primeiro-ministro. A sua exoneração acontece ao fim de dois anos na pasta, com as metas com que se comprometeu ainda longe de se concretizarem.
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"No dia 22 de outubro de 2012, há pouco mais de oito meses, dirigi-lhe uma carta em que assinalava a urgência da minha substituição no cardo de ministro de Estado e das Finanças. Agora, em meados do ano seguinte, essa urgência tornou-se inadiável", refere Vítor Gaspar na carta enviada ao primeiro-ministro e que foi divulgada pelo ministério que tutela.
Vítor Gaspar deixa o lugar de ministro das Finanças quase dois anos após assumir a pasta e com resultados orçamentais longe das metas a que se comprometeu, apesar dos sacrifícios exigidos aos contribuintes.
Gaspar chegou às Finanças vindo de Bruxelas onde foi conselheiro de Durão Barroso como diretor do Gabinete dos Conselheiros de Política Europeia (BEPA) do presidente da Comissão Europeia e, antes disse, foi conselheiro especial no Banco de Portugal.
Licenciado em Economia pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica em 1982, Vítor Gaspar obteve o Doutoramento em Economia na Universidade Nova de Lisboa em 1988.
Gaspar exerceu ainda os cargos de diretor do Gabinete de Estudos Económicos do Ministério das Finanças, diretor do Departamento de Estatística e Estudos Económicos do Banco de Portugal, diretor do Departamento de Estudos Económicos do Banco Central Europeu e Consultor da Administração do Banco de Portugal.
Quando chegou ao Governo há dois anos trazia consigo um estilo bem diferente do seu antecessor, Fernando Teixeira dos Santos, ficando conhecido pela postura calma e controlada e a velocidade, lenta, com que faz as suas intervenções.
Vítor Gaspar deixa ainda como imagem de marca a de um homem com uma pasta com o símbolo da Comissão Europeia, um relógio que marca a hora de Frankfurt e a de um homem que saiu do Banco Central Europeu e aplicou a cartilha dos credores internacionais.
Depois de ter apelidado de desvio colossal o buraco que identificou nas contas de 2011, Gaspar aplicou o primeiro corte num subsídio (metade sobre o valor que superava o salário mínimo nacional) e subiu o IVA sobre a eletricidade e gás natural, mas, ainda assim, foi obrigado a recorrer à transferência dos fundos de pensões da banca para cumprir o défice.
Em 2012, Gaspar suspendeu os dois subsídios aos funcionários públicos e pensionistas - decisão declarada inconstitucional, mas com efeitos só para o futuro. Ainda assim, precisou de recorrer a mais medidas contabilísticas, no caso, a venda da concessão da ANA, que acabaria chumbada pelo Eurostat. O resultado foi um défice que em vez de ficar nos 5% do PIB acabou nos 6,4%.
Mesmo com o aligeirar das metas pela 'troika' por duas vezes, no Orçamento para 2013 o Governo teve de recorrer ao que Vítor Gaspar chamou de um "enorme aumento de impostos" cujos resultados práticos não estão há vista.
Ao fim de dois anos no Governo, Vítor Gaspar deixa o país com um défice orçamental no primeiro trimestre de 2013 de 10,6% do PIB devido à reclassificação de parte do aumento de capital do Banif, mas mesmo sem esse efeito, o valor do défice é de 8,8%, longe da meta de 5,5% a que o Governo se comprometeu com a 'troika'.
Em termos de economia, os resultados não são melhores. A recessão deve atingir os 2,3% este ano e o desemprego deverá superar os 18%.
O ex-governante fica também conhecido como um intransigente nas negociações do Orçamento, o que levou a que mais de uma vez tivesse "pegas" com outros ministros devido ao poder de que gozava dentro do Governo, tendo sido visto muitas vezes como o verdadeiro líder do Executivo ou o indiscutível número dois, relegando Paulo Portas para terceiro plano.
Numa das últimas conferências de imprensa decretou que chegara a hora do investimento. Mas sai antes de se poder verificar se essa hora chegará.