
Uma mulher morreu esta semana, em Matosinhos, vítima de um ataque de um cão
José Carmo/Global Imagens
A identificação das raças de cães potencialmente perigosos pode parecer óbvia, mas é "difícil" o suficiente para alguns donos não os registarem como tal e, logo, não cumprirem os requisitos exigidos pela lei, segundo uma especialista em comportamento animal.
Sara Fragoso, vice-presidente da Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento e Bem-Estar Animal (PSIanimal), falava a propósito dos recentes casos de ataques envolvendo cães de raças classificadas como potencialmente perigosas.
Em entrevista à Agência Lusa, a especialista defendeu um maior investimento na prevenção e lamentou que esta não esteja contemplada na lei.
Sobre a legislação "que tem evoluído", alertou para a dificuldade na identificação das raças, o que "pode parecer fácil", mas não é.
"As tipologias e as raças são muito difíceis de definir, o que torna a aplicação da legislação muito complicada", disse.
Segundo Sara Fragoso, há donos que tentam contornar a lei, valendo-se de algumas características dos animais que não estão conformes as definidas na lei, e não registam os cães nem respeitam as exigências de seguro e do registo criminal, entre outras.
A lei identificou como animais de raça potencialmente perigosa o cão de fila brasileiro, o dogue argentino, o pit bull terrier, o rottweiller, o staffordshire terrier americano, o staffordshire bull terrier e o tosa inu.
A bióloga adianta que são vários os motivos que podem levar um cão - "de uma raça potencialmente perigosa ou qualquer outro" - a atacar, como "o contexto, o estilo de vida ou possíveis causas orgânicas".
Sublinhando que a potencial perigosidade destes animais, tendo em conta as suas características físicas, não impede que os mesmos possam conviver socialmente com o homem, Sara Fragoso insistiu na necessidade da prevenção.
"Temos de ter alguns cuidados, pois são cães com mandíbulas mais fortes", disse.
Estes cães "não são naturalmente mais agressivos, mas se não tiverem uma socialização adequada e estiverem num contexto em que as pessoas não sabem comunicar, nem interpretar o que o animal faz, ou se as pessoas tiverem um comportamento abusivo -- porque há donos potencialmente perigosos e vítimas potencialmente perigosas -- obviamente que se pode desencadear um comportamento agressivo que, por vezes, é muito nefasto", adiantou
Para a vice-presidente da PSIanimal, "é preciso ir mais além", assegurando condições para o animal ao nível da atividade física e do enriquecimento ambiental.
Mas é "fundamental" para quem vive com um animal saber interpretar a sua linguagem, já que este "dá sempre sinais".
"É preciso ensinar às crianças e aos adultos a comunicação dos cães, o que eles, e nomeadamente a sua postural corporal, querem dizer" para evitar equívocos com mau desfecho.
Uma criança de três anos, exemplificou, "acha que um cão que mostra os dentes está a sorrir, quando na verdade quer dizer afasta-te".
"Apostar num treino positivo, em que o cão aprende a comunicar com outros cães, crianças e adultos" é a medida que Sara Fragoso defende para evitar acidentes.
