"Eu fiz o que toda a gente fazia". Foi esta a justificação dada por Isaltino Morais ao procurador do MP para explicar o porquê de ter depositado, na sua conta particular, na Suíça, dinheiro que era excedente das campanhas eleitorais.
Corpo do artigo
"Isso é uma acusação grave...", retorquiu o procurador Luís Eloy. "Na década de 80, uma declaração apresentada por um político ao Tribunal Constitucional nunca era levada a sério. Mas não tinha consciência de que havia com isso um problema fiscal, nunca me passou pela cabeça", realçou.
O procurador ainda questionou se não seria de mau tom ficar com o dinheiro das sobras eleitorais, mas Isaltino rematou: "Dá-me dinheiro quem quer, e quem acredita em mim. É legítimo", destacou, avançando que já procedeu à regularização dos impostos devidos nessa altura.
Sobre o facto de ter depositado numa conta da Suíça mais de 1,321 milhões de euros, entre 1993 e 2002, período em que, segundo a acusação, auferiu, enquanto presidente e ministro do Ambiente, 351 mil euros, Isaltino Morais exaltou-se: "E os salários da minha mulher, as vendas de património. Que raio de investigação é esta?". O procurador pediu calma e chegou até a repreender o autarca: "Tenho sido paciente, já me chamou velho, que não sei nada da vida, mas a paciência tem limites". No dia em que o procurador terminou a sua intervenção, Isaltino Morais negou ainda ter-se aproveitado de uma conta na Suíça, em nome do seu sobrinho, de forma a ocultar quantias elevadas. "Todos os emigrantes que vão para a Suíça enriquecem, menos o meu sobrinho porque é taxista? A mulher dele ganha cinco mil euros e é cabeleireira", disse.
Entretanto, começaram a ser ouvidas as primeiras testemunhas do processo, no dia em que Isaltino deixou no ar a acusação: "Algumas testemunhas foram ameaçadas para mentir".