<p>Não fosse a polémica das escutas e os holofotes do "Face Oculta" estariam focados, em Aveiro, hoje (terça-feira) e amanhã (quarta-feira). Ali, o tribunal irá interrogar José Penedos, Paulo Penedos e Armando Vara, os três arguidos mais "importantes" do caso.</p>
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A importância do trio é óbvia: José Penedos e Armando Vara já foram governantes do PS e têm feito carreira em altos cargos do sector empresarial, onde terão propiciado negócios às empresas de Manuel Godinho, sucateiro de Ovar. Tal como terá feito o filho do primeiro, Paulo Penedos, um bem sucedido advogado que chegou a vestir o fato de "enfant terrible" do PS, ao disputar o partido com Ferro Rodrigues.
As informações conhecidas indiciam Paulo e Vara de suspeitos de tráfico de influências, e José de corrupção passiva, pelo menos.
Ao contrário de Vara, que suspendeu funções no privado BCP, José Penedos manteve-se à frente da REN, de capitais maioritariamente públicos. Mas não será de espantar se o juiz de instrução de Aveiro, Costa Gomes, decidir afastá-lo da REN, na hora de aplicar medidas de coacção, como fez a outros servidores do Estado, na REFER e nas Finanças. O dia de hoje está reservado para a audição de José e Paulo Penedos, o de amanhã para Vara. Todos eles terão feito parte da "rede tentacular" que garantia, a Manuel Godinho, a gestão de resíduos de empresas públicas.
Paulo é suspeito de influenciar o pai a adjudicar, entre outros contratos, a gestão global dos resíduos da REN. Mas também terá abusado da sua própria influência para manter as portas da REFER abertas a Godinho.
Segundo a investigação, Godinho ofereceu contrapartidas de 270 mil euros a Paulo, o que pode suportar a acusação de tráfico de influências. Como este tipo de crime responsabiliza quem trafica influências, mas não o decisor público, é natural que uma eventual acusação do presidente da REN possa antes sustentar-se no crime de corrupção, se confirmado que ele recebeu, por exemplo, as valiosas prendas natalícias referidas no despacho das buscas de dia 28.
Já Vara terá apresentado Godinho a figuras do meio empresarial com influência para assegurar novos negócios, e diligenciado para afastar o presidente da REFER do cargo. Numa ocasião, a PJ terá conseguido provas de um pagamento de 10 mil euros a Vara.