
Exausto e em choque após três horas a pé pelo monte galego onde foi largado pelos foragidos que o raptaram, nos Arcos de Valdevez, o médico António Veloso chorou quando lhe abriram a porta de uma casa.
Pouco passava das oito da noite desta sexta-feira quando o médico abriu o portão da casa de Maximino Soto, no lugar de Padróns, em Ponteareas, na Galiza, 35 quilómetros a norte de Monção. Era a segunda casa onde entrava para pedir ajuda. Na primeira, uma idosa que vivia sozinha teve medo e não o ajudou.
Foi com um imenso alívio que viu Maximino reconhecê-lo das notícias e desabou em lágrimas logo que conseguiu telefonar para a família. Estava traumatizado mas ileso. Para trás ficavam uma noite e um dia de pesadelo em que foi feito refém e esteve sempre sob ameaça de armas, dentro do próprio carro, um Mercedes, depois de ter sido raptado no parque de estacionamento do Pingo Doce, em Arcos de Valdevez. E três horas de caminhada às cegas na serra da Galleira, apenas com uma lanterna e vagas indicações dadas pelos sequestradores.
António Veloso foi raptado a curta distância da sua casa, em Arcos de Valdevez. Preparava-se para deixar o parque de estacionamento do Pingo Doce, por volta das 20.30 horas de anteontem. Um perigoso cadastrado espanhol e um cúmplice português abeiraram-se dele e obrigaram-no a entrar no Mercedes de alta cilindrada. O episódio seria visto por uma cliente, que abandonava também o local, mas que, perante o episódio, voltou a a entrar no supermercado e deu o alerta.
Antes porém, os sequestradores já tinham deixado um rasto de furtos na região do Alto Minho e eram perseguidos pelas autoridades portuguesas. Começaram na freguesia de Cossourado, em Paredes de Coura, de onde é natural o suspeito português e onde viriam a ser furtados dois Renault Clio e uma mota, abandonada pouco depois. Dos carros, nem sinal. Em Friestas, Valença, furtariam, ao final da tarde, um Fiat Stylo, que abandonaram no parque do Pingo Doce de Arcos de Valdevez.
Em Cossourado, poucos são os que falam abertamente no suspeito. Álvaro Barbosa, de 32 anos, viveu durante muito tempo na Galiza. Terá saído de Coura há um mês. Armado e tido como "muito violento", "Canceliñas" é procurado há mais de um mês pelas autoridades do país vizinho, por ter baleado um casal
Pouco mais de uma hora depois do sequestro, o carro do clínico viria a ser avistado junto a uma estação de serviço de Porrinho, entre Tui e Vigo. As autoridades do país vizinho moveram, então, uma perseguição à viatura, por terra e ar, avistando-a, ao final da manhã de ontem, mas apenas por breves instantes. Os raptores continuavam a monte.
* com Alexandre Panda e António Soares
