O Tribunal da Lousã começa amanhã, quinta-feira, a julgar um processo que visa a inabilitação de um empresário já falecido que, em 2000, quis oferecer jipes aos trabalhadores.
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Jorge Mário Carvalho, que era um dos sócios do grupo Alcatifas da Lousã e morreu há cinco anos, é ainda alvo da "acção especial de inabilitação" requerida por três familiares após a sua decisão de premiar 160 empregados com jipes da marca Honda.
Solteiro e sem filhos, o industrial reformado detinha mais de 18% do capital das Alcatifas da Lousã.
Através de testamento, Jorge Carvalho, que morreu aos 70 anos, nomeou beneficiária de grande parte dos seus bens a mulher com quem vivia.
A audiência de julgamento no Tribunal Judicial da Lousã, com audição de várias testemunhas, está marcada para as 9.30 horas de amanhã, quinta-feira, tendo o processo como principal requerente o irmão mais velho do falecido, José Pedro Carvalho.
Em Janeiro de 2000, Jorge Carvalho decidiu oferecer jipes aos trabalhadores do grupo fundado pelo seu pai, o comendador Manuel Carvalho, decisão que foi travada por familiares que se opunham ao negócio com uma concessionária da Honda, em Coimbra.
Dois meses depois, num edital divulgado em locais públicos do concelho, o Tribunal da Lousã revelava que os requerentes são dois irmãos do benemérito, José Pedro e Alberto Carvalho, e um sobrinho, Manuel Barata.
"É requerido que a presente acção seja julgada procedente e provada e, consequentemente, decretada a sua inabilitação", adiantava o edital.
De acordo com a Lusa, citando fontes ligadas ao processo, os requerentes continuam a alegar, dez anos depois, que Jorge Carvalho não estava em condições de administrar os seus bens pelo facto de padecer de doença psíquica há mais de 25 anos, "doença bipolar", caracterizada pela alternância entre fases de euforia e de depressão.
Na altura, ele comprometeu-se publicamente a pagar do seu bolso mais de 2,5 milhões de euros pela compra dos jipes.
Os familiares que contestaram a oferta alegavam que os problemas de saúde de Jorge Carvalho retiravam legitimidade ao negócio.
A celebração do contrato para compra das viaturas, em Janeiro de 2000, foi acompanhada de um sinal de 450 mil euros.
Pressionado pelas circunstâncias, o representante da Honda não chegou a levantar o cheque.
Os requerentes, segundo fontes ouvidas na altura pela Lusa, terão decidido avançar com o "processo especial de inabilitação" por entenderem que Jorge Carvalho deveria ser "defendido dele próprio", através de pessoa que o representasse legalmente, para não cometer "atos ruinosos" ao nível do seu património.
Ao longo da vida, Jorge Carvalho apoiou diversas instituições da Lousã, desportivas, humanitárias, culturais e de solidariedade.