
Um dos inspetores da Polícia Judiciária que acompanhou o caso do "Rei Ghob'", em julgamento por quatro homicídios, disse, esta quinta-feira, no Tribunal de Torres Vedras, que a investigação continua para localizar os cadáveres das vítimas.
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"A investigação está encerrada excepto na localização dos cadáveres", afirmou a inspetora Maria José Ramos, para quem "não há dúvidas de que se está perante homicídios e ocultações de cadáver".
Sem os corpos, a prova considerada indispensável para confirmar os homicídios, a Polícia Judiciária (PJ) juntou dados pedidos à operadora de telemóvel para ter informações relativas ao tráfego de comunicações e localizações dos telemóveis de Francisco Leitão ("Rei Ghob") e das vítimas Tânia Ramos (5 de Junho 2008), Ivo Delgado (26 de Junho 2008) e Joana Correia (3 de Março 2010).
Quanto ao homicídio de 'Pisa Lagartos' (1995), a PJ admitiu que existem "provas frágeis" que apontam para Francisco Leitão como o autor do homicídio.
Os inspetores Valter Lucas e Sérgio Cruz demonstraram no tribunal que "nos aparelhos onde foram inseridos cartões de telemóvel de Francisco Leitão funcionaram também os cartões de telemóvel dos três jovens", fazendo do arguido o único suspeito.
Entre 3 e 7 de Junho de 2008, o cartão de telemóvel de Ivo funcionou num aparelho de Francisco Leitão, onde a 21 de Junho desse ano entrou o cartão de Tânia.
De 6 de Fevereiro a 5 de Março de 2010 o aparelho recebeu o cartão de Ivo e ainda um outro pertencente ao arguido para o envio de mensagens escritas de telemóvel (sms).
Desde o seu desaparecimento, do aparelho telefónico de Ivo Delgado é retirado o cartão (até então localizado na Carqueja) e inserido o de Joana de 4 a 18 de Março de 2010 (dia em que foi localizado perto da Marteleira, Lourinhã).
Ao contrário de Tânia e Ivo, cujas alegadas mortes remontam a 2008, período remoto em que as operadoras já não possuem dados, a PJ conseguiu determinar as localizações do arguido e de Joana, no dia do seu desaparecimento, a partir dos respectivos telemóveis.
Nesse dia, o arguido terá adquirido um novo cartão para inserir no telemóvel que usava exclusivamente para comunicar com a vítima e, enquanto enviava sms a Joana a combinar um encontro para a jovem fazer uma surpresa ao namorado, Leitão terá feito uma "viagem de reconhecimento da casa-castelo, na Carqueja, até Peniche, Baleal, Atouguia da Baleia até à Lourinhã e daí até ao Sobreiro Curvo, onde a vítima residia.
A partir dessa localização, as antenas de telecomunicações vieram a indicar à PJ que os trajetos de Joana e do arguido eram coincidentes e englobaram passagens no sentido Inverno: Lourinhã, Carqueja, Consolação, Peniche, Baleal, Olho Marinho (até às 21.07 horas desse dia, altura em que o cartão de Ivo seria localizado na Amoreira), Alfeizerão e Caldas da Rainha (pelas 23.57 horas).
Quanto às três vítimas, o arguido quis dissimular que estariam em Espanha. Depois da sms enviada em nome de Tânia para o irmão a 22 de Julho de 2008, deslocou-se com o pai de Ivo a Espanha para o localizar, pressupondo que o teria visto.
No caso de Joana, os dados das telecomunicações permitiram à PJ concluir que a 18 de Março o arguido deixou os seus números de telemóvel na Carqueja e se deslocou a Badajoz (Espanha), onde foram feitas chamadas telefónicas de cabines para familiares de Joana. Por seu lado, o cartão de telemóvel da vítima foi ligado, tendo sido detetado pelas antenas de vários locais junto à fronteira.
Os telemóveis das vítimas foram encontrados pela PJ na casa-castelo.
