Um comerciante disse, esta quarta-feira, no Tribunal de Lousada, ter visto uma criança com uma prostituta em Lustosa no dia do desaparecimento de Rui Pedro.
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A testemunha Manuel Pereira disse que passava numa carrinha, no dia 4 de Março de 1998, em direcção a Paços de Ferreira, e viu a caminhar entre os arbustos uma mulher e uma criança. "Não me lembro de mais nada. Vi-os de costas", afirmou ao colectivo de juízes.
Ao tribunal o comerciante disse várias vezes que não conseguia dizer a hora em que observou a criança, nem a roupa que o menor levava vestida.
Este depoimento reforça as declarações da prostituta Alcina Dias, a qual, em audiência, na segunda-feira, garantiu ter estado com Rui Pedro no dia do desaparecimento, no local indicado hoje pelo comerciante.
A acusação sustenta neste julgamento que o único arguido seduziu e conduziu Rui Pedro, então com 11 anos, para um encontro com uma prostituta, após o qual nunca mais foi visto.
O depoimento do comerciante ocorreu, a requerimento dos assistentes, depois de Lúcia Mendonça, tia de Rui Pedro, ter afirmado, hoje, no tribunal, que um homem lhe tinha dito, poucos dias após o desaparecimento, ter visto uma criança com uma prostituta.
O tribunal aceitou de imediato arrolar o comerciante como testemunha e convocou-o para depor, o que ocorreu poucas horas depois.
Manuel Pereira esclareceu que esteve a prestar declarações no tribunal de Lousada poucos dias após o desaparecimento, mas essas, segundo os vários agentes processuais, não constam dos autos em julgamento.
A defesa estranhou que só agora, 13 anos após o julgamento, é que a justiça esteja a dar importância a declarações, as quais, nos dias subsequentes ao desaparecimento, não terão sido valoradas pelos investigadores, por alegadas contradições.
Outra testemunha, Maria do Céu, tia da criança desaparecida, confirmou que, no dia do desaparecimento, o seu filho, João André, primo Rui Pedro, lhe contou que o arguido tinha convidado as duas crianças para irem às prostitutas.
A testemunha comunicou isso aos pais de Rui Pedro e às autoridades policiais, garantindo que, na noite do desaparecimento, no posto local da GNR, o arguido estava "muito aflito". A testemunha garantiu que Afonso Dias se virou para João André e disse com um ar assustador: "Se és meu amigo, não abras a boca".
Maria do Céu acrescentou ao tribunal, citando alegadas palavras do arguido proferidas no posto da GNR: "Em vez de estarem aqui a perder tempo comigo, mandem fechar as fronteiras enquanto é tempo".
A testemunha, admitiu, no entanto, que Afonso Dias negou sempre, naquela noite, ter alguma coisa a ver com o desaparecimento.
Na sessão desta quarta-feira, a sexta do julgamento, vários familiares do arguido, incluindo o pai e duas irmãs, arrolados como testemunhas pelo Ministério Público, remeteram-se ao silêncio.
O julgamento é retomado no dia 12, com a inquirição de mais algumas testemunhas, entre as quais cinco inspectores da Polícia Judiciária arrolados pela defesa por terem participado nas investigações após o desaparecimento.