Técnica responsabiliza directora do serviço por procedimentos que originaram casos de cegueira
A técnica de farmácia do Hospital de Santa Maria, arguida no processo dos cegos daquele hospital, responabilizou esta quinta-feira, em tribunal, a directora do serviço por todos os procedimentos utilizados pelos técnicos da unidade de produção de citoestáticos.
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"O nosso manual de procedimentos era mesmo a dra. Regina Lourenço. Se tivéssemos alguma dúvida era a ela que recorríamos", disse Sónia Baptista, perante o colectivo de juízes, que está a julgá-la juntamente com o farmacêutico Hugo Dourado, alegadamente por terem sido os responsáveis pela cegueira de seis pessoas em Julho de 2009.
Sónia Baptista, que falava na segunda sessão de julgamento, referiu ter preparado "com toda a calma" oito seringas para seis doentes com bevacizumab (Avastin) no dia 16 de Julho, um dia antes de os doentes terem sido inoculados, contrariando o teor da acusação, que refere que a técnica agiu "de forma apressada, devido ao adiantado da hora, e que devia ter verificado o medicamento, o que não o fez".
"Eu fiz as coisas de forma consciente, tendo em conta que estou a trabalhar com materiais muito perigosos, já que são citoestáticos (usados em problemas oncológicos)", referiu.
Em relação à verificação do medicamento, Sónia Baptista disse, que na altura dos factos, "não havia supervisão do trabalho dos técnicos nem verificação dos medicamentos", o que só veio a acontecer depois de 20 de Julho.
Os factos remontam a 17 de Julho de 2009 quando seis pessoas ficaram total ou parcialmente cegas no serviço de oftalmologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, por alegada troca de medicamentos.
O advogado de defesa de Sónia Baptista tem insistido na hipótese de os injectáveis - que ficaram preparados na véspera da inoculação - terem sido contaminados uma vez que se trata de medicamentos que necessitam de conservação entre dois a oito graus centígrados e ficam expostos a temperaturas superiores durante muito tempo.
A técnica de farmácia garantiu ainda ter a "certeza" de que pegou e preparou o Avastin e não qualquer outro medicamento.
O julgamento prossegue depois de almoço com a continuação da audição da técnica de farmácia, prevendo-se também que sejam ouvidas ainda algumas das vítimas.