<p>Em 2005, partiu em missão para a Guiné-Bissau, onde ficou durante um ano. Além de padre, foi mecânico, enfermeiro, barbeiro e tudo o mais que fez falta àquele povo que vive com falta de tudo.</p>
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O ser humano é uma das paixões da vida do padre Almiro Mendes. Foi em nome dela e da vontade de "ajudar os outros a serem felizes" que partiu, em 2005, em missão para a Guiné-Bissau. Seguiu sem hesitar o mesmo chamamento que o levou a abraçar o sacerdócio, anos antes. "Senti que devia ser ainda mais generoso na entrega", explica o pároco de Ramalde, no Porto.
Foi padre lá, como cá, sendo que na Guiné-Bissau tudo adquire uma dimensão diferente. Durante um ano, Almiro Mendes foi padre e tudo o mais que um sacerdote é chamado a ser em África. "Fiz o específico da função de padre, mas também fui mecânico, enfermeiro, construtor, barbeiro, professor".
Algumas das artes já dominava e o que não sabia aprendeu a fazer, rendido à fragilidade de um povo com falta de tudo. "Tal como aqui temos um rendimento mínimo, lá devia haver um sofrimento mínimo... Não há. Toda a gente sofre muito, com falta de tudo", conta. Uma míngua que contrasta com a abundância dos sorrisos que "estão sempre a oferecer" e que deixam saudoso o padre Almiro. "A gente vem, mas fica lá", tenta explicar o sacerdote. "Não há nenhum dia do ano que não me lembre deles".
Almiro Mendes insiste em manter-se presente ou não tivesse ele a "alma tatuada com sofrimento do povo guineense". Quando chegou a Portugal, publicou o livro que foi escrevendo durante o ano de missão. Com a receita da venda desse relato comprou um jipe que ele mesmo foi entregar às freiras. Por terra, quase seguindo o trilho que os carros do Dakar deixaram por percorrer, em 2008, ano em que a prova foi cancelada por motivos de segurança.
Atravessou Portugal, Espanha, Marrocos, o Sara Ocidental, a Mauritânia, o Senegal e a Gâmbia, até que chegou ao destino e às irmãs missionárias que "vivem no meio da mata". Teve medo, pois então, mas a consciência da urgência na entrega de um transporte para salvar vidas superou os receios. Levou medicamentos e uma máquina fotocopiadora, para os meninos da escola da missão.
Diz que voltará, um dia. Até que esse dia chegue, continuará a trabalhar num projecto que procura levar comida às crianças guineenses e a angariar "Padrinhos de África", que a troco de 70 euros por ano ajudam a garantir o futuro a uma criança africana.