<p>Entrar num hospital de animais selvagens é uma experiência difícil de esquecer. Estão ali internados porque estão doentes ou lesionados. Muitos entre a vida e a morte, tantos em vias de extinção. Para sobreviverem não podem ser incomodados. Mesmo. A experiência é a do silêncio, a do respeito superlativo pela fauna.</p>
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É ali, ao Centro de Recuperação de Animais Selvagens de Castelo Branco, projecto gerido pela Quercus com apoio da Escola Superior Agrária, que Sofia vai quase todos os dias. Às vezes de manhã cedo, outras ao fim da tarde. O horário é determinado pela necessidade dos animais. "Faço o que há para fazer, desde alimentar, tratar ou limpar o biotério (laboratório onde se reproduzem ratos)", diz com naturalidade. Naquele dia, o paciente mais grave era um juvenil noitibó-de-nuca-vermelha, ave nocturna que se alimenta de insectos. Tem as asas quebradas, foi talvez vítima de atropelamento. E "é muito nervosa, pode morrer de ansiedade", explica a veterinária Inês Varanda. O noitibó não consegue comer sozinho, é alimentado com pinça. Sofia pega nele como em porcelana, cobre-a para a acalmar, leva-a no colo em câmara lenta, causa-lhe o menor estorvo possível. Faz o mesmo quando alimenta um mocho bebé. "Gosto de ajudar os animais. Parece que não, mas estamos a preservar o planeta." Ali há corujas, águias, cegonhas, cágados, abutres, mochos e tudo o que a GNR e população ali levarem. Quase sempre de urgência.
Sofia tem 17 anos, vai para o 12º ano, foi o irmão Rui quem a seduziu para ali. "Ele adora animais, vem todos os dias". Ela não vai todos os dias, mas nunca deixa de ir quando a chamam. "Mudou a minha mentalidade: hoje faço mais reciclagem e tenho mais respeito pelos recursos naturais."
