Especialistas em incêndios florestais consideraram hoje que a acumulação da vegetação nas florestas portuguesas nos últimos três anos e o crescimento "extraordinário" na Primavera são favoráveis a fogos de maior intensidade.
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O investigador do Departamento Florestal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) Hermínio Botelho disse à Agência Lusa que este ano "há um fenómeno diferenciado dos anos anteriores" no que toca às florestas, que passa pela acumulação "extraordinária da biomassa" (arbustos e ervas), que, associada a altas temperaturas e ventos fortes, poderá provocar "incêndios com uma intensidade mais elevada do que seria de esperar".
"A acumulação de biomassa combustível nos últimos três anos, o crescimento exuberante da vegetação nesta Primavera e se a estas condições acrescentarmos a possibilidade de ondas de calor com temperaturas altas e ventos fortes podemos esperar situações muito complicadas para o combate aos incêndios florestais", sublinhou.
Hermínio Botelho destacou as melhorias da capacidade de resposta do dispositivo contra incêndios, nomeadamente ao nível da prevenção, combate, organização operacional e coordenação no terreno.
"Mas se conjugarmos as condições meteorológicas desfavoráveis e a acumulação da biomassa, estou convencido que vamos ter momentos em que o dispositivo não tem capacidade de resposta", apesar da melhoria, frisou.
Também o presidente do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, Domingos Xavier Viegas, disse à Lusa que "há muita vegetação disponível para arder".
"A vegetação que se tem vindo a acumular ao longo dos últimos três anos, uma vez que não houve fogos e não foi limpa, está disponível para arder", afirmou Xavier Viegas, sustentando que é "muito difícil fazer previsões correctas".
O investigador sublinhou que anos como os de 2003 e 2005, em que se registou a maior área ardida em Portugal, "poderão vir a acontecer em qualquer altura", só não se sabe quando.
Sustentou, igualmente, que "por melhor preparados" que se esteja "corre-se sempre o risco de enfrentar situações graves".
No entanto, Xavier Viegas referiu que "já foram feitas algumas melhorias, mas muito pontualmente", sendo a limpeza um "esforço prioritário".