Cimeira do clima encerra, vazia de compromissos. UE esmagada na liderança. Agora, em vez do Roteiro de Bali, há o caminho para o México.
Corpo do artigo
Os dois países mais poluidores e mais reticentes a compromissos para baixar as emissões estabeleceram um pacto vago, que acabaram por impor a uma cimeira antes paralisada pelas suas objecções.
Os EUA e a China, as duas potências que mais empecilhos criaram a um documento que saísse de Copenhaga com metas e obrigações, negociaram entre si princípios de boas intenções, que a Índia, a África do Sul e o Brasil também subscreveram. O texto desse núcleo levou por arrasto o resto do Mundo, UE incluída. Em 12 pontos são anunciadas intenções. Tal como aconteceu em Bali, há dois anos, a expectativa de compromissos fica adiada para data posterior. Em Novembro do próximo ano, nova Conferência das Partes terá lugar na Cidade do México.
Mesmo os negociadores ao mais alto nível do Brasil, que subscreveu a proposta saída da negociação entre os EUA e a China, consideram os resultado da cimeira como "um decepcionante fracasso" e referiram que o seu país saiu "insatisfeito". O Brasil tinha, na verdade, alinhado antes pelas posições dos países africanos e de alguns outros tropicais, dando também força às posições europeias para a adopção mais generalizada de cortes nas emissões de gases com efeito de estufa. Mas o "namoro" feito por Sarkozy em nome da União Europeia não falou mais alto do que o reagrupamento de interesses entre países quase todos eles com grandes economias emergentes. Assim, dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), no tabuleiro que se aliou aos EUA só a Rússia surgiu substituída pela África do Sul.
O acordo ontem divulgado foi apenas "reconhecido" pelos participantes na cimeira, após veementes protestos de alguns da América Central. A fórmula, na linguagem das Nações Unidas, não obriga a votação por unanimidade. O secretário-geral Ban Ki Moon disse ontem esperar que o texto se torne vinculativo no próximo ano. Segundo este responsável, o "acordo" é "um começo importante". Já o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e o presidente francês Sarkozy não esconderam a sua decepção. Gordon Brown, do Reino Unido, seguiu a linha de esperança de Ban Ki Moon.
Mesmo que a formalidade do documento se transforme no próximo ano ou seguintes, a sua substância limita-se a um conjunto de intenções. Apenas num ponto é concreto: os países desenvolvidos devem disponibilizar 30 mil milhões de dólares até 2012 para medidas de adaptação e mitigação nos países mais vulneráveis. Para o horizonte até 2020 o compromisso "deverá ser" de 100 mil milhões de dólares por ano.
As imprecisões do "acordo" abarcam também o pico das emissões de CO2: ele deve ser atingido "o mais cedo possível". Por outro lado, o compromisso anunciado pelas Nações Unidas é o de não deixar que o aumento da temperatura global supere os 2ºC face aos registos de antes da era industrial; ora este sempre foi um ponto de contestação dos países africanos e dos pequenos estados insulares, que defendiam um máximo de 1,5º C. Todo este grupo de nações, a que os grupos ambientalistas juntaram a voz, considera que viu a sua sobrevivência traída e o líder africano do G-77 disse mesmo que lhes estava a ser pedido "um pacto suicida".
Sobre taxas de redução de missões e calendário para isso nada é referido. O que o "acordo" estipula é que os países subscritores de Quioto entreguem até final de Janeiro próximo as taxas que prometem reduzir em 2020. Num anexo idêntico é pedido que os países em desenvolvimento entreguem a lista das suas acções de mitigação, o que devem repetir a cada dois anos.
* Com Agências