O presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e coordenador do projeto Geração XXI, um estudo científico pioneiro em Portugal que acompanha mais de 8000 crianças desde a gestação, apelou, esta segunda-feira, ao apoio do mecenato português.
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Apesar do financiamento comunitário e da Fundação Gulbenkian, os responsáveis pelo projeto têm despesas adicionais que sentem ter a obrigação de cumprir, como por exemplo oferecer os pequenos-almoços às cerca de 8.500 crianças que se deslocam ao instituto para fazer análises clínicas.
"Estas crianças vão em jejum para fazer as suas análises, obviamente, nós temos a obrigação de lhes dar o pequeno-almoço. Era muito importante que houvesse mecenato, porque para muitas empresas é irrelevante fornecer oito mil pequenos-almoços e para nós é uma imensidão de dinheiro", salientou Henrique Barros, em declarações à Lusa.
Apesar de ser o primeiro estudo deste tipo alguma vez realizado em Portugal, que envolve milhares de crianças nascidas nos hospitais públicos com maternidade, da grande área metropolitana do Porto (S. João, Santo António, Pedro Hispano, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Maternidade Júlio Dinis), entre abril de 2005 e agosto de 2006, a sua importância científica "ainda é pouco percebida a nível nacional", lamenta o coordenador principal do projeto.
"Noutros países onde a tradição da investigação científica na área da saúde populacional, da saúde comunitária e da saúde pública é mais enraizada, os próprios mecenas entendem-se no apoio a dar. Entre nós, praticamente, não há mecenas, portanto, temos de ultrapassar todos os obstáculos e inventar soluções", disse Henrique Barros.
Mas, ressalvou, "obviamente, não queremos que o projeto pare e, seguramente, iremos conseguir que se mantenha, assim como iremos conseguir manter vivo o interesse das mais de oito mil crianças e respetivas famílias".
"Trata-se de um projeto internacionalmente reconhecido e que é uma fonte extraordinária de informação para os decisores" porque "tudo fica documentado no preciso momento em que acontece. É como uma câmara que vai acompanhando o percurso deste conjunto de crianças".
As avaliações do projeto Geração XXI, atual e futuras, "poderão ser encaradas como linhas de monitorização do estado de saúde e dos seus determinantes nas crianças portuguesas e, desta forma, ter um importante papel no planeamento de estratégias de intervenção sanitária, funcionando mesmo como observatório de saúde" sustentou.
Vinte pessoas trabalham continuamente na avaliação das mais de oito mil crianças e a equipa inclui médicos, psicólogos, nutricionistas, sociólogos, farmacêuticos, fisioterapeutas e assistentes sociais, entre outros.
A Geração XXI serve de base a um vasto leque de trabalhos de investigação científica, em áreas como a saúde perinatal, obesidade e saúde metabólica, estilos de vida, saúde cardiovascular, saúde musculoesquelética, entre outras.
Das avaliações da Geração XXI saíram já quatro teses de doutoramento e 13 teses de mestrado (encontrando-se mais nove teses de doutoramento em curso), 13 artigos científicos publicados em revistas internacionais e mais de 30 participações em congressos internacionais e nacionais.
Recentemente, o projeto foi identificado por um artigo científico internacional como um dos maiores estudos longitudinais na Europa a analisaro desenvolvimento pré-natal e pós-natal.